A IA está transformando o mercado SaaS, reduzindo custos e aumentando a concorrência. Descubra como essa revolução impacta a criação de produtos digitais.
PS. Esse conteúdo foi escrito a partir de 4 grandes referências, que conseguiram traduzir muito melhor do que eu, parte da minha visão sobre os movimentos de mercado que temos vivido relacionados à IA. Recomendo fortemente que você consuma os conteúdos originais na íntegra e bata suas conclusões com as minhas. A lista está ao longo do post.
Boa leitura!
O SaaS (Software as a Service) é um modelo de software baseado em assinatura, no qual empresas e usuários acessam soluções online sem a necessidade de instalação local. Ferramentas como Google Drive, Slack e Salesforce são exemplos desse formato, que permite escalabilidade, atualizações constantes e custos previsíveis.
Nos últimos anos, o mercado de SaaS cresceu exponencialmente, atingindo US$ 195 bilhões em 2023 (Gartner). No entanto, a ascensão da IA está remodelando esse cenário, tornando o desenvolvimento de software mais rápido, acessível e competitivo do que nunca.
Sendo assim, duas ondas estão se formando no mercado tech, mais especificamente nos produtos baseados em assinatura. E o tsunami quando elas se encontrarem tende a redesenhar toda a paisagem:
As "fotocopiadoras SaaS" movidas a IA que estão clonando softwares caríssimos por uma fração do preço.
Os agentes de IA que estão transformando como as empresas trabalham no dia a dia.
E sabe o mais fascinante? Essas forças parecem opostas, mas juntas estão criando algo novo.
Olha como as coisas estão ficando interessantes: enquanto 73% dos fornecedores SaaS aumentaram preços desde 2022, o custo para construir soluções similares despencou.
Vi um caso recente onde o Michael Luo reconstruiu um clone básico do DocuSign em apenas dois dias (e sim, eu sei que já falamos aqui sobre os mitos de construir produtos com no code e IA, mas é indiscutível o processo de democratização e barateamento do processo produtivo de software que estamos vivendo).
E não é só para economizar trocados. Com o mercado SaaS batendo US$195 bilhões em 2023 (Gartner), até os clientes corporativos - aqueles que tradicionalmente pagavam qualquer valor sem pestanejar - estão repensando suas estratégias.
Como Aaron Levie do Box destacou recentemente no último podcast da Y Combinator: "O cliente não quer um modelo de IA, quer um resultado." As empresas estão percebendo que a IA permite construir soluções específicas para seus problemas a uma fração do custo de ferramentas SaaS tradicionais.
Mais do que isso, aparentemente as empresas que criaram e comercializam os modelos de LLM passaram a avançar em novos produtos e casos de uso, como a OpenAI com o operator e os novos agentes com projeções de representar 25% da receita futura.
Será o fim dos SaaS caros? Ou o começo de algo completamente novo?
Batendo um papo com a Andressa Schiessl da Ambev sobre como eles estão surfando nessa onda, descobri insights super valiosos:
Equilíbrio é tudo: "O receio de descentralizar totalmente sem governança clara sabemos que não funciona", compartilhou Andressa. Eles não jogam tudo para um lado só.
Testar antes de escalar: Estão validando conceitos e custos antes de sair implementando a torto e a direito. Nada de apostar todas as fichas sem ter certeza.
Mix de talentos: Combinando "um time técnico interno e alguns terceiros" para acelerar o desenvolvimento. Um pouco de casa, um pouco de fora.
Essa abordagem equilibrada reflete exatamente o que Levie identificou como a nova fronteira: entender claramente o que é "core" (estratégico construir internamente) e o que é "contexto" (melhor comprar de fornecedores especializados).
A abordagem pé no chão da Ambev me fez pensar: será que o segredo não está nos extremos, mas no meio-termo inteligente?
E quais oportunidades de mercado isso não abre..?
Toda essa transformação levanta questões que temos que encarar:
Construir ou comprar? Com ferramentas de IA cortando o tempo de desenvolvimento em 70% (McKinsey), a equação mudou completamente. Como Levie observa, a pergunta de ouro é: "Se você fosse cliente da sua empresa, você se importaria com qual tecnologia eles usam para essa função?"
Centralizar ou descentralizar seus agentes de IA? 62% dos CIOs estão reavaliando toda sua estratégia SaaS (Deloitte). E você, já começou essa discussão?
Seus fornecedores de SaaS estão evoluindo ou só resistindo? As empresas que já abraçaram agentes de IA estão economizando 25-30% em TI (Forrester). Seus fornecedores estão te ajudando nessa jornada ou só aumentando preços?
Antes de tudo precisamos colocar uma coisa em perspectiva: ainda estamos em fases muito iniciais da adoção massiva de IA.
Relembrando a fala do Aaron Levie no podcast da YC sobre adoção de IA nas empresas do S&P500: elas estão em apenas os primeiros “10% do caminho na adoção de assistentes de IA gerais e apenas 1% na adoção de qualquer coisa que poderíamos chamar de agentes de IA.
Pegando dados de janeiro, menos de 10% da população brasileira usou a ferramenta mais difundida de IA do Brasil.
Mas comecei uma série de conversas com lideranças de empresas de referência daqui do Brasil, e ouvi um padrão interessante que ecoa as ideias de Levie: quem está realmente prosperando não escolheu um caminho único - eles encontraram seu próprio equilíbrio entre "core" e "contexto".
Já estamos testemunhando o que Levie chama de "paradoxo de Jevons" aplicado à IA: à medida que a eficiência aumenta, novos casos de uso surgem - não apenas substituindo trabalho humano, mas habilitando atividades que as empresas simplesmente não faziam antes. As empresas estão acelerando: de 35% com estratégias de IA formalizadas em 2023 para uma projeção de 85% até 2026.
Se você chegou até aqui, provavelmente tem na cabeça algumas das mesmas questões que têm me mantido acordado:
Valor vs. Facilidade: Como equilibrar o que é estrategicamente valioso construir (mesmo que seja difícil) versus o que é simplesmente fácil de construir com as novas ferramentas?
Curva de aprendizado organizacional: Quanto tempo sua empresa tem antes que a capacidade de integrar IA aos processos deixe de ser vantagem competitiva e se torne requisito básico de sobrevivência?
Talento e cultura: Como atrair e reter talentos quando a própria definição de "habilidade técnica" está sendo radicalmente transformada pela IA?
Governança adaptativa: Como criar estruturas de governança que sejam robustas o suficiente para mitigar riscos, mas flexíveis o bastante para não sufocar a inovação?
Negociação com fornecedores: Como renegociar contratos SaaS existentes quando agora você pode potencialmente replicar funcionalidades por uma fração do custo?
Talvez a pergunta mais provocativa seja: o que vai acontecer com o ecossistema SaaS quando a barreira de desenvolvimento cair tanto que a vantagem competitiva deixar de ser "quem consegue construir" e passar a ser exclusivamente "quem entende melhor o problema" (e aqui talvez more uma grande oportunidade para PMs)?
Nesse cenário a tecnologia em si me parece menos relevante do que a camada de “serviço” que define o problema a ser resolvido, analisa e implementa a melhor solução.
Longe de querer dar respostas prontas, este texto é um convite à exploração coletiva deste território ainda nebuloso. Nas últimas semanas estou tendo uma série de conversas com líderes de tecnologia, produto e negócios que estão ativamente navegando estas águas.
Onde sua empresa está nessa jornada? Surfando a onda, observando da praia ou ainda escolhendo a prancha? E mais importante: que perguntas você adicionaria a esta lista?
PS: Para quem quiser se aprofundar, recomendo fortemente a entrevista recente de Zuckerberg no Joe Rogan onde ele detalha como o Meta está abordando o desenvolvimento de agentes de IA. Acesse por aqui.