Como criar sua própria receita para uma transição de carreira em tech?

Moxú, que era faxineiro e fez uma transição para Ciência de Dados, dá dicas para profissionais que querem entrar na área de tecnologia.

Dar os primeiros passos na área de tecnologia pode ser desafiador, principalmente para profissionais que vêm de um cenário de carreiras tradicionais. São muitos conhecimentos para desenvolver ao mesmo tempo, junto à compreensão de diferentes rotinas e práticas das empresas digitais. 

Para avançar, é comum buscar referências de profissionais que vieram de um contexto similar, entendendo qual foi o percurso e como podemos nos inspirar. Esse processo de networking e troca é essencial, mas também é importante lembrar que não existe receita de bolo.

Neste artigo, Moxú, que era faxineiro e hoje é cientista de dados, dá dicas para profissionais que querem entrar na área de tecnologia, mostrando como você pode criar sua própria receita para uma transição de carreira. Confira.

Infinitas possibilidades 

"O que eu faria de diferente durante o meu processo de transição de carreira?" Essa é uma pergunta clássica, que encontramos em vários posts, seja do Twitter ou mesmo do LinkedIn. O que eu faria de diferente?, Qual caminho teria sido mais fácil?, Qual metodologia teria se provado mais frutífera?

Eu sempre estudei em escolas públicas. Quando eu tinha três anos, em Belo Horizonte começavam a nascer as EMEIs, e eu entrei em uma das primeiras. No fundamental, estudei em uma escola do bairro em que morei dos cinco aos 14 anos. No ensino médio, estudei em uma escola estadual perto do centro da cidade. 

Uma das coisas que eu prometi para mim mesmo, já nos últimos meses do ensino médio, foi fazer escolhas conscientes sobre a minha carreira, sobre a universidade. Muitos terminam o ensino médio sem a mínima ideia de qual carreira cursar, não sabem do que gostam nem do que não gostam, mas fazem ENEM, entram em um curso qualquer, e o resto é história. 

Enquanto todos começavam na faculdade, eu comecei trabalhando como faxineiro em uma empresa estatal. Durante minha transição, meu trabalho competia com um curso em Data Science e Machine Learning da Tera e um curso de alguma faculdade. Sim, eu não tinha cabeça para estudar todos os dias, não tinha nem tempo nem recursos para trabalhar de graça para alguém na finalidade de colocar experiência no currículo, nem tempo para aplicar qualquer conselho genérico que eu lia em artigos, podcasts ou entrevistas. 

Eu tentava fazer o meu melhor todos os dias. Não era todo dia que eu aprendia algo novo, que eu me tornava uma versão melhor de mim mesmo. Que cansaço que deve ser! Então, o que eu faria de diferente? Nada. “Mas, como isso me ajuda?”, você pode se perguntar.

Na filosofia, existe um conceito de abstrair o concreto e concretizar o abstrato. A sua vida é única, obviamente contendo características comparáveis, mas essencialmente única. É um bolinho. Todo bolo provavelmente contém farinha, ovos e leite. Mas, existem infinitas possibilidades de bolos disponíveis. 

Faça sua própria receita

Sendo assim, a primeira dica que eu daria a você seria: leia os ingredientes e faça sua própria receita. Esse é o conselho mais importante de todos. Não existe maratona na vida. Não existe competição. Apesar de muitos tentarem te convencer do contrário, não existe. Não há elementos de comparação. Não há formas de medir a superioridade de um pudim sobre uma broa de fubá. Uma broa é uma broa, um pudim é um pudim.

A segunda dica é: não será fácil. Se você for negro, ou mulher, cis ou trans, ou qualquer pessoa que se distanciar minimamente do padrão heteronormativo, branco e sexista, será ainda mais difícil. Mas, desistência não é uma opção. Eu poderia dizer que aplicando qualquer sequência de passos, em seis/sete meses você estará onde quiser. Pode ser que sim, pode ser que não. Eu espero que sim!

Fazendo parte de qualquer minoria social, você já estará em desvantagem. Você precisará despender 10x mais esforços que uma pessoa privilegiada qualquer para chegar no mesmo lugar. Apesar dessa triste realidade, tenha calma. Foque em você, tenha paciência, e você vai longe.

“E meu LinkedIn, Moxú? E meu currículo? E meu portfólio? Quais cursos você recomenda?”. Para tudo isso, há uma única resposta. Faça o que der certo para você. Porém, faça. Seja ativo no LinkedIn, se conecte com as pessoas da sua área, com as profissionais de empresas que você queira trabalhar futuramente. Só não perca sua personalidade no processo. É o seu recurso mais valioso. É o que te faz uma pessoa única. O mundo corporativo, ainda é extremamente racista, sexista e preconceituoso. Não se abstenha de expor injustiças, de dar visibilidade a pautas importantes.

No entanto, chegamos em um impasse. Como eu disse anteriormente, eu trabalhava como faxineiro. Ganhava menos de um salário mínimo, em um emprego que eu odiava. Qualquer oportunidade que aparecesse, eu agarraria, independente da empresa. Aparentemente, a grande maioria da população não existe na imagem dos blogs de passo a passo para transicionar de carreira

Nova call to action

Projetos

E o portfólio? O melhor projeto é aquele que é feito por conta própria. Você pensou no problema,  nas hipóteses, coletou os dados, construiu as análises e realizou a modelagem. Muitos sites possuem projetos pré-realizados. Utilize esses projetos para praticar, para construir uma imagem de um projeto ideal na sua cabeça. Quando você tiver mais facilidade, construa um projeto seu. No começo vai ser difícil. Provavelmente demorado. Você cometerá erros básicos, ficará preso por semanas em uma parte do projeto. Tudo isso ajudará no seu processo de aprendizagem. Por quê? 

O processo básico de superar um problema é:

  1.  tentar resolver por conta própria; 

  2. ler vários artigos na esperança de encontrar uma solução que se encaixe na sua dificuldade; 

  3. pedir ajuda.

Pedir ajuda para quem? Para colegas, para participantes de uma comunidade, para usuários do StackOverflow, entre outros caminhos. Eu te garanto que você nunca ficará preso nesse problema novamente. Pode não ser a melhor solução para sua situação, mas não precisa se preocupar com isso agora. Na medida em que você vai evoluindo, formas mais claras irão aparecer para você. 

“Fiz o projeto, Moxú. E agora?”. Documente seu projeto, por mais simples que seja, e compartilhe, principalmente com suas conexões no LinkedIn. Isso facilitará muito nos seus processos seletivos. Um dos maiores interesses de uma pessoa recrutadora é entender como você chegou na sua solução, seja num case técnico ou até mesmo comentando o projeto realizado. Relate todas as suas dificuldades, porque você escolheu esse modelo, esse caminho. Deixe claro o seu processo mental. Não há modelo de processo mental –  todo seu, esqueceu? Se você estava dormindo e sonhou que você deveria fazer isso ou aquilo, relate, mas nunca deixe essa parte vazia.

À medida que você vai ficando mais confortável, avance. Utilize outro modelo, outras métricas, outras técnicas. O recrutador quer um guia turístico, que sabe os caminhos para chegar em um ponto turístico. Ficar sempre na mesma rua, não te levará muito longe. “Então, eu preciso conhecer toda a cidade? Eu preciso conhecer todas as técnicas de estatística e aprendizado de máquina?” definitivamente não. É impossível. E se a pessoa quiser saber sobre os museus da cidade, mas eu mando muito melhor em dar dicas de botecos ou pousadas, por exemplo? Indique uma pessoa que manda muito bem e enriqueça sua rede de contatos! 

O mundo da tecnologia é gigantesco. Não dá para abraçar tudo, saber bem de tudo. Após entender o básico da sua área, existem dois caminhos para seguir: se especializar ou se generalizar. Há lugar para pessoas generalistas e especialistas no mercado. Isso vai depender somente de você.

Cursos e livros

Para aumentar seu conhecimento, um curso é uma ferramenta muito comum. Mas, qual o melhor? Depende de você. Na minha época de faxineiro, eu não tinha dinheiro para investir em um bootcamp de 15k reais e ficar o dia inteiro à disposição para isso.

Se você não tem flexibilidade no seu tempo, e consegue se comprometer com cursos gravados, existem centenas de plataformas para cada necessidade. Caso você não tenha dinheiro nenhum, o YouTube será seu santuário. Se você prefere estudar por livros, existem milhares de ótimos livros disponibilizados gratuitamente na internet. 

“Qual é o caminho então? A internet é gigantesca. Onde eu começo e onde eu termino?”. Existem vários artigos com roadmaps prontos, contendo até mesmo links para cursos e livros para determinado assunto. Todavia, a melhor alternativa é encontrar alguém para te mentorar. Use suas conexões no LinkedIn para encontrar uma profissional já consolidada no mercado, com experiência na sua área, e peça para ela ser sua mentora – o máximo que ela pode dizer é não. Assim, você terá alguém experiente que te acompanhará durante a sua jornada, podendo te ajudar em problemas, ou caminhos para seguir. Alguns cobram, outros não. O critério dependerá do seu dinheiro.

“Mas eu quero um curso que seja referência no mercado, Moxú. Que me ajude a passar em uma entrevista”. Quem fará a entrevista será você, não seu curso. Certificados de cursos não importam. O máximo que eles podem mostrar é que você faz muitos cursos, nada muito além disso. Procure retirar conhecimentos e projetos de qualquer curso que você fizer. É isso que a recrutadora observará.

Entrevistas

“Nas entrevistas eu devo dizer o quê? Fazer o quê? Agir como?”. As melhores entrevistas são aquelas que te deixam à vontade, em que o recrutador faz perguntas que realmente interessam, e que te dá abertura para ser você mesmo. Nas primeiras, você estará nervoso, vai gaguejar, esquecer termos, falar coisas que você não queria e ficar ansioso. Com o tempo isso vai passando. Perguntas que te deixavam desconfortável ou desorientado vão fluir naturalmente, suas respostas serão menos vagas, você será mais objetivo. Vai por mim!

Eu recebi muitos "nãos" na minha vida, e eles foram tijolos na construção de quem eu sou hoje, como indivíduo. Não leve para o lado pessoal. Eu sei que vai ser difícil, e eu sei que não vai adiantar eu falar, porque não vai ser tranquilo receber um não. Tudo bem ficar triste, tudo bem ficar frustrado, tudo bem chorar. Faz parte. Mas não desista. Sempre vale a pena no final.

Conclusão

Acho que por hoje é só. Trilhe o seu caminho, seja egoísta com a sua carreira, continue sempre estudando, e ajude os outros. Tenha paciência com as dúvidas e dificuldades de quem está começando. Cada um tem seu próprio processo mental. Alguns terão muito mais facilidade onde você teve enorme dificuldade, e dificuldades onde você teve facilidade. Ajudar é a forma mais efetiva de aprender e evoluir. 

E não se esqueça, faça sua própria receita. Leve em conta seu tempo, seus recursos financeiros e suas limitações para fazer o que eu disse aqui ou não. Não se culpe se você trabalhou o dia inteiro e não tem cabeça para estudar hoje, ou terminar uma tarefa do seu projeto. A vida é curta, mas nem tanto assim. A principal ferramenta no mundo da tecnologia é seu cérebro. Tudo flui mais rápido com uma cabeça limpa, descansada e saudável. "

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