Descubra o que é a metodologia Scrum e como lideranças de produto podem usá-la para alavancar projetos inovadores e escaláveis. Veja quais são os ritos de Scrum e como implementar com eficiência.
Quando você pede um Uber e chega um Honda City na sua porta, você não pensa no processo de criação desse aplicativo. Mas, se pensar, você certamente perceberá que o Scrum está por trás dele e da maioria dos aplicativos.
Ele é o grande diferencial das empresas de crescimento rápido e do sucesso de muitos aplicativos e produtos, sejam eles digitais ou não.
A metodologia Scrum se enquadra no Agile, o termo genérico para vários tipos de abordagens utilizadas para obter um escopo de trabalho inovador.
O conceito básico do Scrum é dividir grandes projetos em etapas menores, que são continuamente revisadas e adaptadas ao longo do processo.
Tudo começou quando a empresas foram pressionadas a incorporar mais velocidade e flexibilidade em seus processos de desenvolvimento de produtos.
Elas passaram a utilizar uma abordagem holística com seis características: instabilidade embutida, equipes de projeto auto-organizadas, fases de desenvolvimento sobrepostas, “multilearning”, controle sutil e transferência organizacional de aprendizado.
Essas peças se encaixam como um quebra-cabeças, formando um processo rápido e flexível para o desenvolvimento de novos produtos. A metodologia tanto pode trazer inovação para corporações tradicionais, como impactar o crescimento das startups que rapidamente escalam com ideias disruptivas que se transformam em produtos como um passe de mágica. Mas aqui o truque tem nome: Scrum.
O jogo mudou e agora todos precisam aprender as novas regras. Aliás já mudou há algum tempo, desde que Hirotaka Takeuchi e Ikujiro Nonaka abordaram o tema pela primeira vez na Harvard Business Review.
No artigo “The New Product Development Game” eles fizeram uma analogia comparando equipes multifuncionais de alto desempenho com a formação de Scrum usada por equipes de rugby. Nesse método holístico, assim como no rugby, a bola é passada dentro da equipe à medida que ela se move como uma unidade no campo.
O ano era 1986 e a transformação digital já estava batendo na porta das corporações. Com o mercado mudando rapidamente, elas precisavam adotar uma forma de desenvolver produtos que se mostrasse mais ágil, mais flexível e mais colaborativa. Ao experimentar a nova metodologia surgiram os efeitos positivos em cases citados no artigo, entre eles o do Honda City.
“As regras do jogo para competir com eficácia no mercado mundial de hoje mudaram. As multinacionais devem alcançar velocidade e flexibilidade no desenvolvimento de produtos; fazer isso requer o uso de um processo dinâmico envolvendo muita confiança em tentativa e erro e aprendizado na prática. O que precisamos hoje é inovação constante em um mundo em constante mudança. ” Hirotaka Takeuchi, Unidade de Estratégia da Harvard Business School.
Ao analisar o novo processo que vinha sendo aplicado por empresas japonesas e americanas, os autores detectaram três condições que identificam os grupos com capacidade de auto-organização: autonomia, auto-transcendência e fertilização cruzada.
Esses fatores passaram a inspirar a nova metodologia e desde então o Scrum vem sendo usado para gerenciar o desenvolvimento de novos produtos, especialmente os digitais.
As startups logo aprenderam a jogar rugby com suas equipes enxutas e então os produtos digitais aceleraram ainda mais a transformação que se tornou disruptiva em diferentes mercados.
Como empreendedor ou como usuário você já entendeu que alguns setores nunca mais serão os mesmos depois do Uber, AirBnb, Nubank, Ifood, Movile, Spotify, Netflix e tantas outras empresas que se tornaram símbolos da economia digital. Na verdade elas já nasceram ágeis, cresceram com o Scrum e continuam inovando com essa metodologia para se manterem no topo.
O Scrum é um framework ágil e pode ser aplicado a qualquer projeto ou esforço de desenvolvimento de produto. Ele funciona como um processo que une o time em um conceito de divisão da metodologia por ritos:
O Product Owner cria o backlog do produto, uma lista de desejos priorizada;
Durante o Sprint Planning, a equipe puxa um pedaço do topo da lista e decide como completá-lo;
A equipe tem um prazo definido (o sprint) para concluir seu trabalho. Eles se encontram em um scrum diário para manter o trabalho avançando;
Ao longo do caminho, o Scrum Master mantém a equipe focada;
No final do Sprint, o trabalho deve ser potencialmente utilizável;
A equipe conduz uma revisão de Sprint sobre o produto e uma retrospectiva sobre o processo;
E então, eles escolhem o próximo pedaço do Backlog e o ciclo se repete.
O processo todo do Scrum garante que o trabalho mais importante tenha sido concluído até o final do projeto.
Agilidade, economia, transparência e foco são as grandes benefícios do Scrum para os negócios. A metodologia permite otimizar o tempo gasto em um projeto, além de economizar capital. Tudo é consequência das reuniões de alinhamento e do formato de entrega por etapas, no qual o produto é aprimorado a cada sprint.
Essa possibilidade de aprimorar durante o processo é outra grande vantagem do Scrum, porque a cada entrega acontece uma validação, na qual os clientes podem dar feedbacks e alterar detalhes, aperfeiçoando tudo ao longo do desenvolvimento do produto.
Outro ganho significativo do Scrum é a transparência que resulta de um trabalho colaborativo. As reuniões frequentes do time permitem que todos os envolvidos no projeto saibam a posição do trabalho dos demais e quanto falta para que todos cheguem ao objetivo final, assim como o que ainda precisa ser realizado e aperfeiçoado.
Embora as grandes corporações ainda enfrentem alguns desafios, o Scrum é um caminho natural para as startups. Quase todas já surgiram com a metodologia ágil, onde esse framework é o padrão dos times.
Empresas como Spotify e Netflix já nasceram ágeis e se tornaram mais fortes à medida que cresceram, investindo continuamente em experiências mais significativas para o usuário. Sempre com o suporte do Squad e de times digitais de alta performance, que se adaptam rapidamente às mudanças do mercado, adotando ou criando inovação com esse modelo de trabalho.
Startups e empresas escaláveis apostam na comunicação e integração entre áreas, além de treinamento contínuo dos times. O Spotify é referência no uso do Scrum associado ao Lean como norteadores de processos. Eles adotam práticas organizadas, onde um time só começa o trabalho a partir do ponto que o outro entrega, dentro de uma linha de tempo pré-definida.
A equipe Squad, que significa Esquadra, atua como uma mini-startup dentro da startup maior, que se auto-organiza e decide com autonomia os processos que serão adotados. Ela também ajuda a organizar as outras equipes de acordo com o papel de cada uma dentro da empresa: desenvolvimento de software, design, marketing, vendas, suporte etc.
Quando o Scrum é implementado corretamente resulta em maior produtividade e entusiasmo do time, menor tempo de lançamento no mercado, melhor qualidade e menor risco do que ocorreria com as abordagens tradicionais.
Os resultados comprovados em todos os setores ficam evidentes quando pensamos nas marcas que até ontem não existiam e hoje não podemos viver sem elas. Como você acabou de pensar, nem vamos citar aqui.
Com processos de melhoria contínuos e baseados nos valores de transparência, informalidade e propósito, os times são organizados e têm muita autonomia. Exatamente o que se espera de um time ágil: que cada pedaço da engrenagem tenha capacidade de se desenvolver em busca de um propósito comum a todas as partes da empresa.
Até parece um mundo ideal para empreendedores. Nós já sabemos que aí fora não é bem assim, mas se pelo menos você conseguir organizar equipes que se adaptem às constantes mudanças de cenário até pode virar o jogo e ainda sair ganhando. Bora jogar rugby com seu time?