5 Tendências de Product Management para 2021 | Digital Trends

Guilherme Seabra da Easynvest, Sâmia Lauar do Quinto Andar e Wilton Pinheiro da Amazon discutem as tendências para o cenário de Product Management em 2021.


O mercado de produtos digitais tem vivido um momento de total aquecimento. Para quem já atua na área, entender quais são as tendências de Product Management para 2021 é essencial para acompanhar as mudanças inevitáveis que estão surgindo nos negócios e na sociedade. Já para quem deseja se tornar product manager, é a chance de começar a carreira com um olhar maduro no próximo ano.

Convidamos três experts do setor para compartilharem seus insights sobre o que podemos esperar de 2021 na área de Liderança de Produtos Digitais. O bate-papo aconteceu durante o evento Digital Trends 2021, da Tera.

Confira as 5 tendências apresentadas por Guilherme Seabra, Head of Product & Design na Easynvest, Samia Lauar, Head of Product CX & Rental Management no QuintoAndar e Wilton Pinheiro, Product Manager na Amazon (Alexa).

1. Product Management com responsabilidade sobre o business

As transformações do mercado digital têm levado o produto para o centro do negócio. No entanto, em muitas organizações a relevância do setor de Product Management e seu impacto ainda não estão estabelecidas de forma clara. 

Para Guilherme Seabra, Head of Product & Design na Easynvest, uma das tendências de Product Management para 2021 é ter o produto respondendo diretamente sobre o business, ou seja, aumentando sua responsabilidade sobre o desempenho do negócio e respondendo diretamente ao executivo.

“Vejo muitas empresas atribuindo gestão de produto à tecnologia, colocando PMs para responder aos CTOs. Entendo isso como um indício de uma disciplina que ainda está em amadurecimento. Também vejo a quantidade de profissionais que ainda atua como product owner, com muito foco em projeto e com pouca conexão ao valor para o negócio e para o cliente.”

Considerando que Product Management é uma área ainda em consolidação nas empresas, é comum que a visão sobre o que é uma pessoa Product Manager, o que ela faz e a quem se reporta ainda esteja em evolução. Seabra explica que, por mais que muitas vagas de Product Management no Brasil ainda tenham um “viés produtizado” de product owner, existem ventos de mudança.

“Tenho visto um movimento das empresas para mudar isso e das pessoas para se comunicar com uma visão mais ampla do que deve ser um product manager. Nunca vi tanto conteúdo falando de Product Management no Brasil e boa parte desses materiais fala do papel de PM e da responsabilidade dele no business. Esses conteúdos têm chegado aos executivos e eles estão genuinamente interessados em entender o que é a figura do PM na empresa.”

Como exemplo, Seabra cita a Easynvest, que fez o movimento de conectar o setor de produto diretamente ao CEO. Além disso, a empresa parou de condicionar o sucesso do time de product management à entrega de features específicas, valorizando mais a entrega de valor para o negócio.

“Creio que tem um movimento maior que outros anos de olharmos o PM com a responsabilidade de tomar decisões, equilibrando a visão de business, cliente, tecnologia.  Essa posição é da pessoa que consegue criar pontes e alinhar o que é melhor para a empresa e para o cliente.”

2. Implementação de Lideranças de Produto

Mais uma tendência de Product Management para 2021, segundo Guilherme Seabra, é a ocupação de cargos executivos por profissionais de produto. Esse é um movimento já visto no exterior, que já tem acontecido em empresas brasileiras que “nasceram digitais” e, agora, passa a ser observado em negócios que estão desenvolvendo uma mentalidade digital.

“Empresas estão começando a entender que, tanto quanto outras disciplinas que já fazem parte de um C-level, Product Management tem um espaço que é relevante para a construção de um produto, para a construção de uma empresa.”

No entanto, ainda existe um caminho a percorrer para que essa tendência se implemente de fato no cenário brasileiro. Guilherme pontua a importância de que profissionais de produto se preparem o quanto antes para ocupar esses espaços de liderança.

“Não adianta a gente perceber esse movimento da empresa se a gente não tem pessoas preparadas para isso. Não adianta ter apenas as posições. O que eu entendo é que iniciativas como cursos de formações de CPOs (Chief Product Officer) deveria ser cada vez mais comum dentro do Brasil. Dentro da comunidade de produto, a gente tem muita troca para quem está está em transição, para quem tem mais maturidade, mas ainda vejo pouca troca de lideranças, para a gente começar a se preocupar como liderança para ocupar essas posições dentro das empresas.”

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3. Importância da inteligência emocional no trabalho remoto 

As discussões sobre inteligência emocional e sua relevância para profissionais não se limitam ao espaço dos produtos digitais. Essa skill tem se tornado uma buzzword nas empresas e um requisito para contratação de pessoas. No entanto, o contexto da pandemia do Covid-19 e do trabalho remoto acelerou a necessidade de compreensão sobre esse tema.

Sâmia Lauar, da Head of Product CX & Rental Management no QuintoAndar, trouxe a interseção entre inteligência emocional e trabalho remoto como uma das principais tendências para o próximo ano.

“Dado que o remoto não é uma questão de se funciona, mas de como a gente faz funcionar, um elemento crucial é inteligência emocional. Trabalhar remoto vai trazer alguns elementos importantes para reforçar a saúde emocional, como estar perto da família, participar da criação de filhos, morar em Búzios, permitir um horário próprio. Por outro lado, traz desafios da mesma natureza: quando você se desliga do trabalho, como lidar quando se sentir improdutivo, como gerar ideias?”

Trazendo a conversa para o trabalho de product managers, Sâmia explica que essa pessoa tem um papel significativo de unir pontas dentro da empresa. Assim, é essencial que ela tem social skills bem desenvolvidas para conseguir ouvir pessoas, lidar com desafios e entregar resultados mesmo no contexto remoto. 

Mas, para que isso aconteça, é preciso dar um passo atrás e construir uma visão mais madura e aberta sobre a busca por inteligência emocional. Lauar reflete sobre o desenvolvimento emocional ainda ser um tabu para muitos, que torcem o nariz para a terapia, por exemplo, entre outros meios de evolução na área. Acima de tudo, é necessário ver a inteligência emocional como ensinável.

“O polêmico desse tema - que é chave para o trabalho remoto funcionar - é que a gente não vê inteligência emocional como algo ensinável. A gente deixa as pessoas se virarem, na tentativa e erro. O filósofo inglês Alain de Botton (School of Life) fala sobre temas da modernidade e no livro “School of Life: an emotional education” ele fala exatamente como a sociedade moderna é super comprometida com educação formal, mas a gente não é intencional sobre o lado emocional. O autor fala que isso vem da premissa básica de que não consideramos inteligência emocional algo ensinável, não replicável.”

Sem que haja desenvolvimento dessa competência, a entrega de resultados pode se tornar ainda mais distante no “novo normal” do trabalho remoto. Para Sâmia, é importante se acostumar com a ideia de times atuando remotamente, afinal, esse modelo vem sendo adotado por muitas companhias mundo afora. 

“O modelo tem vantagens que já estão sendo exploradas e tem outras que serão impostas à gente, com a possibilidade da gente ficar para trás se não abraçar. Para além da redução de custos, contratar remotamente é algo que destrava o crescimento de startups. Todos os hubs de tecnologia no mundo estão super disputados em contratações. Poder sair dessa bolha é muito importante. Big techs como Amazon, Facebook  e Google já estão fazendo esse movimento de contratar pessoas do Brasil remotamente, tomando a posição de que podem investir nesse modelo para sempre. Isso vai ser mais um “novo normal” do que apenas uma opção para a gente escolher aderir ou não.”

Para quem quer começar a desenvolver a compreensão sobre o tema, o livro “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman é um excelente ponto de partida. 

4. Compreensão de Matemática e Estatística

Saindo das habilidades emocionais para as técnicas, Wilton Pinheiro, Product Manager na Amazon, traz como tendência para Product Management a necessidade de construção de um arcabouço nas áreas de Matemática e Estatística. 

Wilton antecipa uma carência de mercado que já tem observado no contexto estadunidense. Atuando na equipe de desenvolvimento das redes neurais da Alexa, ele explica que, no passado, ser product manager exigia “falar as línguas” de tech, business e design. Mas com a ascensão de produtos que se baseiam em Inteligência Artificial e Machine Learning, entender de matemática e estatística é uma grande vantagem competitiva.

“Se você tem um time de Data Science e vai conversar com eles sobre a performance do modelo, é muito mais desafiador você, como product manager, descrever seus requisitos para aquele modelo funcionar. E para quem não entende muito de AI ou machine learning, é pura matemática e estatística. Se você cair em um time onde estão construindo esses modelos e não souber falar com eles, você vai estar em desvantagem, não vai conseguir desafiar o time, saber e eles estão indo bem ou mal.”

Pinheiro conta que experiências pessoais liderando modelos machine learning mostraram que a ideia de usar algoritmos prontos acaba se mostrando inviável na prática, tornando essencial uma visão interdisciplinar.

“Para você fazer aquele algoritmo de machine learning funcionar, você tem que entrar no detalhe dele, entender quando ele não performa bem, qual o tipo de dado, qual a equação por trás dele, por que ele não está funcionando? Para quem está entrando no mercado e quer trabalhar com AI e ML, é importante ler  quais são as fórmulas que estão por trás de um modelo como o random forest. Leia o que é uma rede neural, como você define aquilo, entenda os mecanismos para aquilo funcionar. Não acredite que a gente vai ter modelos de AI que vão pegar algo pronto do Python, jogar no algoritmo e fazer ser um sucesso.”

5. Competição pela atenção de consumidores 

Por fim, a última tendência de Product Management para 2021, também apresentada por Wilton Pinheiro, é a mudança na forma de enxergarmos a competição pela atenção de consumidores. Se você acha que seu produto compete apenas com produtos similares, pense novamente. A disputa, na verdade, é muito mais ampla. 

“Se você vai trabalhar com um produto que vai trabalhar com a atenção do consumidor, não assuma que ele só vai usar o produto quando quiser fazer alguma coisa. Tenha em mente que é preciso pensar não apenas em empresas que fazem algo parecido, mas pense no consumidor durante o dia dele e o que ele pode fazer em vez de usar o seu app.”

Um exemplo que ilustra essa mentalidade: imagine um app de news com as melhores notícias do mundo. Quais seriam seus competidores? 

“Você pode pensar que a pessoa usuária vai entrar no app pela manhã, vai no banheiro e vai pegar o celular. Ela pode abrir o Instagram, o Whatsapp,  Facebook, o Google, o Tik Tok. Então, todos esses estão competindo pela atenção do seu consumidor naquele momento, mesmo que tenham um objetivo diferente. O consumidor vai ter que ter uma razão muito grande para abrir o seu app de notícias em vez de um dos outros.”

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Espelhando as transformações que são inerentes ao mundo VUCA, o setor de Product Management também está em constante evolução. Para quem está ingressando nessa área, entender as tendências e desenvolver as habilidades citadas é essencial para se preparar para novos momentos do mercado o quanto antes. 

Gostou das tendências de Product Management que apresentamos aqui? Você pode conferir a conversa completa entre os experts na Digital Trends 2021 assistindo à programação disponível em nosso canal do YouTube.