Conheça a história de Juliana Martins, entusiasta de Agilidade com a missão de levar pessoas pretas para espaços de poder no mercado corporativo.
No mercado de produtos digitais, a bagagem que cada pessoa leva é essencial na construção de soluções transformadoras e valiosas para a sociedade. Esta é a história de Juliana Martins, que carrega em sua bagagem a trajetória de uma mulher preta, mãe, periférica, com uma visão ágil sobre produtos, um olhar aguçado sobre profissionais e organizações e a missão de levar outras pessoas pretas para espaços de poder no mercado corporativo.
Neste texto você vai entender como a Product Manager Sênior no Nubank fez o bootcamp de Digital Product Leadership da Tera, desenvolveu sua visão ágil e descobriu que sua história era sua maior potência para transformar o mercado e a sociedade.
Um dos quatro pilares do manifesto ágil sustenta que “responder à mudanças tem mais valor do que seguir um plano”. Essa percepção foi um dos fatores que transformou Juliana Martins em entusiasta de Agilidade. Ela passou a buscar por espaços corporativos para desenvolver produtos e realizar entregas de valor em prazos que fizessem sentido, considerando um mercado onde as mudanças são aceleradas e imprevisíveis.
Depois de uma carreira de 12 anos em uma empresa de telefonia, de onde saiu como consultora de tecnologia, ela fez uma transição para Liderança de Produto, tornou-se delivery manager e começou a aplicar os princípios da agilidade.
“Na antiga empresa, a lógica seguida era waterfall (modelo de desenvolvimento de software em cascata, com ações sequenciais) e, para mim, era bastante estranho entregar um produto depois de cinco anos e não vê-lo efetivamente em produção, ou não sendo consumido. A analogia era a mesma de entregar um produto de Natal no Dia das Mães, não fazia sentido. Esse incômodo me fez procurar organizações que trabalhassem a agilidade como pilar e que tivessem uma visão de construção de produto de agregar valor para o consumidor final em uma velocidade muito mais rápida e que fizesse sentido, ou seja, entregar o presente de Natal no Natal.”
Mas ser ágil é mais do que ter um mindset: é entender as exigências do mercado e de quem, atualmente, consome seu serviço. O contato com clientes do ramo financeiro gerou reflexões sobre impacto social e como ela poderia ocupar esses espaços trazendo valor e transformação para a sociedade.
“Quando eu vi a potencialidade que existe dentro do sistema financeiro e o quanto eles conseguem se articular em várias esferas, inclusive pública, passei a pensar que eu queria usar tudo que eu estava aprendendo em uma fintech, porque elas conseguiam encontrar, em meio às lacunas do sistema, possibilidades de causar impacto real. Assim eu mudei pra fintechs e comecei a entender que essas organizações nasceram de incômodos que não são exclusivamente do mercado, mas também são incômodos sociais.”
O desejo de causar impacto e a certeza de que poderia contribuir para isso de maneira efetiva também foi resultado de um processo de empoderamento como profissional. Juliana explica que, ao longo da jornada, passou por experiências de racismo velado no contexto corporativo. Na mesma época, conheceu o Movimento Black Money, que teve parte ativa na sua compreensão do que era negritude e da importância desse reconhecimento na sociedade, principalmente no mercado de trabalho.
“Foi no ambiente corporativo que eu descobri que era preta e ter vivenciado racismo nesse ambiente foi doloroso porque me trouxe reflexões sobre efetivamente caber ou não naquele espaço. E eu demorei muito para entender que sim, eu posso ocupar o espaço que eu quiser. Perceber que eu poderia estar em qualquer lugar foi um divisor de águas porque foi nessa época que eu percebi que poderia estar na empresa que eu quisesse. Pensando na carreira, eu me conectei muito com os meus valores e, quando você começa a entender seus valores e construir seu discurso e sua vivência em cima disso, você começa a ser livre para fazer um monte de movimentos, entendendo que você não é um ser limitado pela sociedade e pela sua origem. Você pode criar espaços ou resistir a espaços existentes da forma que você achar que faz sentido.”
Ter visão de que o mercado precisa se ajustar constantemente às necessidades reais das pessoas consumidoras alimentou a proposta de valor que Juliana carregava consigo. Daí surgiu o desejo de aumentar a bagagem sobre criação de produtos feitos para durar no mercado atual.
“Foi no processo de identificar e entender a minha jornada, o que fazia sentido para mim, onde eu queria estar e o que eu queria produzir que eu cheguei na Tera. Foi o momento que eu busquei entender como construir os produtos e como criar um arcabouço para me conectar com o que eu via que era importante em valor para a sociedade e para indivíduos. Queria compreender como eu faria isso de uma forma que fizesse sentido não só para a organização, mas também para as pessoas que trabalhavam comigo.”
Ao ingressar no bootcamp de Digital Product Leadership, Juliana foi uma das estudantes que vivenciaram o rápido processo de adaptação da Tera no início da pandemia de Covid-19. Lembra da ideia de responder à mudanças mais do que seguir um plano?
“A experiência foi muito boa porque, embora eu tenha feito a inscrição para participar presencialmente, a pandemia mudou o processo e isso foi feito à distância, mas para mim fez muito sentido porque a Tera supriu uma das primeiras exigências de produto, que é atender uma necessidade de mercado se adaptando rápido.”
Durante o curso, o aprendizado em aula foi bem além do estudo de conceitos. Para Juliana, o que realmente a enriqueceu foi a troca com experts de mercado que vivenciam a rotina de Produto em grandes empresas. A transição de carreira para o universo das fintechs se completou em setembro de 2020, quando ela se tornou Product Manager Sênior no Nubank.
“Hoje trabalho dentro da área financeira, em que a principal responsabilidade é trazer valor de forma diferente da que era feita por grandes instituições. Fazer isso exige que pessoas que trabalham em produto reflitam o que é acessibilidade e tentem chegar em consumidores muitas vezes negligenciados pelos bancos tradicionais ou abusivamente explorados pelo segmento. O que a gente pode fazer diferente para gerar valor para este público? ”
Durante a trajetória profissional, Juliana foi impactada pela visão de coletivos negros e mulheres profissionais de destaque no mercado de trabalho. Ela passou a se enxergar como uma potência na sociedade e valorizar a bagagem única que trazia e que poderia agregar em sua atuação. Um dos pontos marcantes em sua transformação pessoal foi o contato com o Movimento Black Money.
“Foi o contato com o movimento Black Money e os diálogos construídos com a Nina Silva que me fizeram refletir muito sobre o que era ser preto por uma visão diferente da perspectiva da branquitude. Eu entendi que não preciso de uma ação integracionista para ocupar espaços, eu preciso mostrar minha potência, estar preparada e trazer toda a bagagem que eu tenho como parte de quem eu sou. Enquanto o enegrecer não for uma coisa boa para você, você não consegue ocupar esses espaços sem ser embranquecido por eles. Hoje eu tenho muito orgulho de falar que eu sou uma mulher preta e que as pessoas precisam me ouvir por ser quem sou”.
Profissionais como Maitê Lourenço, da BlackRocks, e Camila Ramos, do Facebook, também tiveram influência significativa na carreira de Juliana, fortalecendo uma rede de apoio e empoderamento.
“São mulheres que me influenciaram muito, me acolheram e me apoiaram na minha construção como indivíduo. Isso, sem dúvidas, repercutiu em quem eu sou como profissional. Conforme você vai entendendo que você tem apoio de uma rede, que você não está sozinha e que você não é só um indivíduo, mas a representação de uma comunidade inteira, isso de tá forças também.”
A troca de conhecimento e de experiências serviram como grandes impulsionadores para que a jornada dela se tornasse também marcada pela luta para que mais pessoas pretas possam ocupar espaços de poder no mercado.
“Hoje, no cargo que eu estou, tento ser agente de mudança e utilizar os privilégios da minha posição para influenciar outros negros para que eles também ocupem espaços com voz e com toda essa bagagem, da mesma forma que essas mulheres me empoderaram para que eu tivesse a minha voz e ocupasse meu espaço. Mesmo que nossa presença exija resistência, desejo que outras pessoas pretas ocupem posições de liderança e de poder, que sejam ouvidas e atuem como influenciadores a favor da nossa comunidade dentro ou fora de instituições privadas. Desejo que nossa potencialidade não seja limitada a nenhum lugar ou espaço definido por qualquer outro grupo”
E como trazer toda essa bagagem para a criação de produtos? Pensar em diversidade na construção de produtos digitais é um objetivo que o mercado ainda não conseguiu atingir totalmente. Juliana enfatiza que a contratação de pessoas pretas se torna inválida se a empresa não abrir espaço para que essas e esses profissionais realmente tenham voz ativa.
“Acho que a gente deu pequenos passos na sociedade em relação à diversidade, mas a gente não andou nada sobre inclusão. Não adianta trazer pessoas pretas, manter elas na base e, ainda assim, não dar espaço de fala.”
Entender o que são produtos diversos e para quem eles são é o primeiro passo na construção. Assim, não se corre o risco de pensar que apenas criar um produto diferente vai atender as inúmeras diversidades que temos na sociedade.
“Ou você aceita que seu produto vai ser diferente, mas não diverso, ou é preciso efetivamente ouvir as pessoas diversas de dentro e de fora da empresa para que essa construção aconteça de fato. A empresa precisa ouvir a real necessidade do consumidor, mas precisa, mais do que isso, dar voz para as pessoas que estão dentro da organização, porque são essas as pessoas que efetivamente vão se conectar com as necessidades de fora.”
Outra questão marcada por Juliana como decisiva para a criação de produtos diversos é o respeito à bagagem que cada um traz de seu espaço de diversidade. Não deve haver silenciamento ou embranquecimento no processo.
“Uma pessoa não branca consegue criar um produto com visão diferente justamente porque ela tem uma bagagem diferente e não só porque ela fez uma formação diferente. A vida inteira dela é diferente e isso precisa ser respeitado. As instituições não fazem isso, elas querem que a pessoa seja diversa até meia página.”
Por fim, no contexto de equipes ágeis, é essencial pensar também que a individualidade de cada pessoa é o que vai garantir o sucesso da multidisciplinaridade, trazendo visões diversas para agregar valor à discussão.
“Quando a gente está falando de agilidade, eu vejo que empresas falavam muito de times multidisciplinares. Mas ter times multidisciplinares tem uma complexidade enorme porque exige que você respeite pessoas, histórias e modelos de trabalho muito diferentes do seu. E muitas organizações não estão dispostas a arcar com o que é diferente, porque é muito mais fácil lidar com o que é igual. Quando você fala de trazer diversidade para dentro, exige que você dê espaço para a pessoa, compreenda que ela vai passar por um processo de aprendizado, mas já traz consigo toda potencialidade necessária para estar ali.”
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Esperamos que, assim como nós aqui da Tera, outras pessoas se sintam provocadas pelas reflexões trazidas pela Juliana Martins. Afinal, sabemos que somos parte do problema no mercado digital quando um terço dos times de tecnologia do país não possuem sequer uma pessoa negra. Para mudar esse cenário desigual e pouco inclusivo, temos direcionado nossos esforços para fazer parte da solução. Queremos que cada vez mais pessoas com histórias semelhantes a de Juliana possam ganhar voz ativa no mercado e ser empoderadas para transformar a sociedade.
Por isso criamos o DiversiTera, o programa da Tera que oferece descontos especiais para mulheres, pessoas negras e pessoas trans estudarem com a gente.
E para você que também quer seguir uma carreira em Liderança de Produto, confira nosso bootcamp de Digital Product Leadership.