Como definir o que é um produto digital? Leia o que especialistas como Jules Ehrhardt e Rob Boyett explicam sobre o o tema e entenda porque produtos digitais são considerados o futuro do varejo.
Você sabe o que orelhões e pessoas pedindo táxi na rua têm em comum? Pois é, ambos estão sumindo das paisagens urbanas. Os orelhões já quase não existem mais — os poucos que restam mal funcionam, e só esperam ser recolhidos pela empresa de telefonia responsável. Já o pessoal acenando para táxis na rua vai pelo mesmo caminho.
Hoje, com a exceção de uma turma muito excêntrica (alguns diriam hipsters), nós nos comunicamos por smartphones e outros dispositivos mobile — até o telefone fixo está em extinção.
Já o saudoso aceno para o táxi foi substituído por aplicativos que oferecem a mesma utilidade, mas de forma bem mais prática. Ou seja, o transporte privado urbano se transformou em um produto digital.
Você já deve ter ouvido falar nesse termo. O problema é que, assim como várias outras expressões atuais ligadas à inovação, ele tem costas largas — significa muita coisa. Se você fizer uma rápida pesquisa, provavelmente vai se confundir ou se perder pelo caminho. Então, como definir exatamente um produto digital?
Em primeiro lugar, vamos recapitular o que é um produto. Sim, é o pacote de café e a embalagem de detergente que você pega das gôndolas. Mas não só isso.
O marketing tem uma definição abrangente e bem útil para nós: um produto é um objeto colocado/disponibilizado num mercado com a intenção de satisfazer necessidades ou desejos de um consumidor.
Neste caso, estamos falando de produtos físicos, ou materiais. Na definição tradicional, os produtos não materiais são denominados serviços.
Acontece que, no âmbito digital, essas definições se confundem. Em um artigo já famoso de 2016, Jules Ehrhardt, founder do estúdio de “capital criativo” FKTRY, diz o seguinte:
“Um produto digital é um produto ou serviço ativado por um software que oferece alguma forma de utilidade a um ser humano.”
Ehrhardt, então, dá exemplos do “mundo real”: aplicativos de transporte (como Uber ou 99), aplicativos de delivery (como iFood ou Rappi), aplicativos de bancos, interfaces de compra em smartphones, etc.
Você deve ter percebido que todos esses exemplos implicam serviços, e aí temos motivos para confusão. Acontece que essa convergência, num contexto em que negócios estão cada vez mais orientados para os softwares, é inevitável.
Por isso, para Jules Ehrhardt, o cerne da definição de um produto digital são os softwares. “O ponto de contato de uma pessoa com um produto ou serviço pode estar em vários dispositivos ou plataformas, como a web, aparelhos mobile, wearable technologies (ou tecnologias vestíveis) etc”, afirma ele.
“Mas o software é o núcleo de tudo isso, uma vez que é ele que conecta a parte que usamos, ou front-end, ao sistema que roda tudo, chamado de back-end”.
Numa linguagem um pouco mais user friendly, Rob Boyett, da empresa de design de experiências Idean, destaca neste artigo a complexidade da exposição de consumidores aos chamados produtos digitais. Para ele, essa relação é mais enrolada do que parece, porque vivemos numa “sopa” de mensagens de marketing e de utilidade, e não é fácil separar umas das outras.
Para tentar esclarecer as coisas, Boyett aponta uma dinâmica que, segundo ele, é específica dos produtos digitais: a questão da propriedade.
Historicamente, nós sempre tivemos os produtos, fosse por um período ou pela vida inteira. Uma bicicleta ou todos os discos dos Rolling Stones, por exemplo.
Com a digitalização, isso mudou. Nós não nos apropriamos de produtos, mas tornamo-nos usuários deles, dos serviços que oferecem. Podemos alugar uma bicicleta por um período (por meio de um app) ou ouvir todas as músicas dos Stones por streaming, via Spotify ou Deezer.
Aqui, Boyett contribui com outra definição:
“Produtos digitais são muitas coisas com múltiplos donos, cada um com a habilidade de alterar o produto depois que a venda é realizada.”
Ele está se referindo ao uso de dados ao longo da jornada do consumidor, aplicados ao aperfeiçoamento dos produtos digitais. Sabe quando a bicicleta que você aluga passa a ter uma lanterna e uma buzina? Ou quando o Spotify acerta na mosca aquela indicação de uma nova banda? Então, é por aí.
Acontece que, recentemente, surgiram muitos problemas nesse aspecto. Para Boyett, 2018 foi um ano bem complicado para os produtos digitais, porque vieram à tona práticas obscuras de crescimento a qualquer custo, e porque foram revelados vários abusos de uso de dados por parte de empresas.
Diante disso, ele propõe uma atualização daquela definição de Jules Ehrhardt, com base nessa relação contínua com os consumidores. “Como designers, devemos deixar claro que tipo de relacionamento estamos buscando”, afirma Boyett. “Os benefícios devem estar transparentes para todas as partes”.
Assim, a definição atualizada de Rob Boyett é:
“Um produto digital é um produto ou serviço ativado por um software que oferece alguma forma de utilidade a um ser humano. E, um produto digital deve proporcionar uma relação mutuamente benéfica para empresas e consumidores. Os benefícios dela retirados precisam ser transparentes para ambos.”
Vale lembrar, ainda, de outras diferenças entre produtos digitais e físicos que ajudam a esclarecer as coisas. Os digitais não têm custo algum de prateleira, ao contrário do que acontece com os físicos.
Além disso, os produtos digitais começam a ganhar valor quando são lançados (por conta do uso de dados), enquanto os físicos começam a perder valor no momento em que vão para as lojas.
Que os produtos digitais são o futuro do varejo, Jules Ehrhardt, Rob Boyett e qualquer conhecedor do assunto sabem muito bem. Eles também concordam que, daqui para a frente, os consumidores estarão cada vez mais no centro do design de produtos digitais — vem daí uma palavra que deve ganhar cada vez mais relevância: autenticidade.
Novas tecnologias, como pesquisa por voz, também devem transformar o cenário. Prepare-se para ouvir falar muito em nomes como Alexa (Amazon) e Bixby (Samsung), uma vez que a taxa de conversão por esses mecanismos é muito maior.
Os chamados “micro-momentos” também vão impactar o desenvolvimento de produtos digitais. Trata-se de um termo criado pelo Google para designar situações bem específicas dentro da jornada de compra do consumidor.
São quatro: “quero saber”; “quero ir”; “quero fazer”; “quero comprar”. Ainda de acordo com a empresa, nós vivemos, em média, 150 micro-momentos durante o dia.
No fim, os produtos digitais são a melhor prova de que o mundo está mudando. Orelhões vão desaparecer, pessoas vão deixar de pedir táxi na rua — e tudo bem. A tecnologia existe para tornar a vida mais prática. Empresas precisam se preparar para isso, e profissionais também.
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