Qual é o futuro do trabalho? Entenda a visão de especialistas de mercado
Onde estamos e para onde vamos no futuro do trabalho? Descubra o que pensam Leandro Herrera, Clara Cecchini e Alex Teixeira.
Qual é o segredo para se manter relevante em um futuro do trabalho em que 85 milhões de ocupações podem simplesmente desaparecer? O cenário dos próximos anos está longe de ter robôs se revoltando contra humanos, como os filmes futuristas nos fizeram acreditar. Mesmo assim, as perspectivas ainda preocupam algumas pessoas. Esse é o seu caso?
Para trazer luz a esse assunto, este artigo traz a visão dos especialistas Alexandre Teixeira, Cofundador da ODDDA, Clara Cecchini, Especialista em aprendizagem e inovação e Leandro Herrera, Founder & CEO na Tera. Alexandre e Clara são autores do livro “Aprendiz Ágil: Lifelong learning, subversão criativa e outros segredos para se manter relevante na Era das Máquinas Inteligentes”.
Continue a leitura e entenda mais sobre as transformações que nos trouxeram até aqui, além de dicas para acompanhar essas mudanças e fazer parte do grupo de profissionais do futuro do trabalho.
O que é o futuro do trabalho e quais transformações nos trouxeram até aqui?
Por mais que dê a impressão de ser algo distante, o futuro do trabalho já é presente no mercado atual. Esse termo faz referência aos impactos provocados pela transformação digital e tecnologias de automação, Inteligência artificial, Machine Learning e outras, que permitem que processos antes realizados por pessoas sejam executados por máquinas e softwares.
Mas toda essa mudança não tem um aspecto apenas tecnológico. Alex Teixeira explica que também há influência das mudanças comportamentais, ou seja, da forma como as pessoas se relacionam com a tecnologia e umas com as outras.
“Tem muitas tendências que estão se interconectando e essa conexão explica boa parte das mudanças. A gente aborda vários elementos tecnológicos para falar da mudança, mas se a gente olhar a tecnologia pura, a gente só vai entender um pedaço dela.”
Pensar em transformações tecnológicas e sociais mudando a dinâmica do mercado de trabalho também não é algo novo. Leandro Herrera aponta que isso acontece desde a Primeira Revolução Industrial.
“Já passamos por várias revoluções tecnológicas e todas elas causaram algum tipo de impacto na natureza do trabalho. Essas revoluções — ou evoluções— tecnológicas começaram com a Revolução Industrial e vêm acontecendo em ondas até o momento atual, que leva a uma ideia de trabalho líquido. Contratos, habilidades, lideranças: tudo isso está ficando fluido e se fragmentando.”
A ideia de fluidez no mercado de trabalho ficou bem clara na Pesquisa Re:trabalho 2020, que identificou novas preferências e padrões por parte das empresas contratantes e das pessoas atuantes nessas organizações.
Questões como a mudança de empresa ou até de área de atuação, além da possibilidade de atuar como freelancer, hoje não são mais um tabu para profissionais. É o “novo normal” do mercado, que foi acelerado pela pandemia do Covid-19.
Podemos ser otimistas sobre o panorama atual?
Com quais lentes podemos enxergar o futuro do trabalho? Alexandre explica que, enquanto pensadores como Raymond Kurzweil, diretor emérito de engenharia do Google, são otimistas ao acreditar em como a tecnologia pode nos ajudar, outros são considerados tecnocatastrofistas e acreditam que AI é uma ameaça à humanidade.
Contextualizando para o mundo do trabalho, os tecno-otimistas acreditam que, mesmo que haja desempregos eventuais causados pela disrupção, novos e melhores postos de trabalho vão ser criados e nós vamos nos beneficiar. Já os tecnocatastrofistas enxergam o copo meio vazio. Para eles, existirão novos empregos, mas a maior parte da população não terá as habilidades necessárias para ocupar esses cargos.
A realidade do futuro do trabalho passa longe do clichê de pequenos robôs substituindo pessoas. No dia a dia das empresas, o que existem são softwares que dão conta de processos que, antes, eram feitos por muitas mãos. Existe sim o risco de pessoas serem demitidas por falta de habilidades para acompanhar essas mudanças do futuro do trabalho. No entanto, existem possibilidades, como a atualização de habilidades, o retreinamento, ou a aprendizagem de novas skills, permitindo uma recolocação no mercado.
Entre as utopias e distopias sobre o futuro do trabalho, os autores Alex e Clara preferem ficar com um realismo de médio prazo. Clara Cecchini pontua três dimensões que devem estar na mira de profissionais do futuro.
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dimensão individual: o que eu preciso fazer para ser relevante?
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dimensão organizacional: como ajudo a construir relevância na organização em que estou?
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dimensão social: qual é minha responsabilidade em distribuir a aprendizagem?
Leandro Herrera aponta que, enquanto o relatório do World Economic Forum estima que 85 milhões de ocupações serão deslocadas, outros 97 milhões de novos empregos vão surgir. Entretanto, a maioria dessas novas funções está relacionada à tecnologia.
Existem desafios técnicos para fazer requalificações em massa para essas carreiras na velocidade necessária para a economia, principalmente porque não existe um total alinhamento em relação a essas iniciativas. Assim, o desafio da requalificação é complexo.
Mesmo que o ensino seja essencial para mudar esse quadro, Clara lembra que alguns problemas exigem medidas mais amplas.
“Temos que lembrar que algumas questões são de outro lugar, de garantia de acessos, de direitos, de qualidade de trabalho. Porque senão a gente entra em um discurso meritocrático negativo, do tipo "estude e qualifique-se", "trabalhe enquanto eles dormem" e você vencerá na vida. Eu sempre vou defender a aprendizagem, mas a gente precisa ter a dimensão que a educação é importante, mas não resolve tudo sozinha.”
O que fazer para ser relevante no futuro do trabalho?
Existem muitas skills importantes para atuar no futuro do trabalho, mas talvez nenhuma delas tenha tanto peso quanto a capacidade de aprender. Para Clara Cecchini, “as pessoas precisam saber desenvolver a habilidade de saber qual habilidades elas precisam desenvolver.”
Por mais que esse pareça um trava língua, se você ler com atenção vai notar o quão verdadeira é essa afirmação. Ao desenvolver essa competência, você vai conseguir analisar os desafios, ter autoconhecimento e compreender quais são as lacunas que precisam ser preenchidas para enfrentar cada desafio.
Tanto individualmente quanto a nível de organizações, é preciso criar uma cultura de aprendizagem. Na visão de Clara, dois princípios muito importantes para a aprendizagem e requalificação são:
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visão multidisciplinar: adquirir habilidades tecnológicas, dominar algumas disciplinas, mas também compor a caixa de habilidades com disciplinas de áreas diferentes. Isso vai formando profissionais cada vez mais interessantes e com mais valor;
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mudar a mentalidade sobre lifelong learning: não se trata de aprender ao longo da vida em modelos tradicionais de um curso após o outro. Cursos são bons, mas é preciso desenvolver uma aprendizagem intencional. Isso significa perceber, ao longo dos desafios enfrentados no trabalho, quais são os aprendizados extraídos. Se tornar consciente das oportunidades de aprendizado no dia a dia.
Por fim, Alex e Clara deixam conselhos para ser “aprendiz ágil”. Para Alexandre, desenvolver um prazer genuíno pelo aprendizado é fundamental.
“Temos dois extremos, um é o do FOMO (Fear of missing out), que é paralisante, e outro é o do blasé de não ligar para aprender por ter um emprego no momento. É preciso achar um meio termo e ter prazer em aprender. A possibilidade de trabalhar para aprender deveria ser inspiradora e aspiracional.”
Clara ressalta a importância de não abrir mão da própria atenção, mesmo em um contexto de sociedade em que muitos conteúdos são oferecidos de forma rápida e condensada.
“Achar que não consegue ter concentração em um mesmo tema por muito tempo é muito danoso para o nosso processo de aprendizagem. Porque a atenção é algo que a gente educa, que a gente ganha. Não caia no discurso fácil de que você precisa de tudo resumido em uma página, porque você não vai ter o mesmo resultado de se dedicar em um conteúdo extenso. Não deixe que roubem sua atenção.”
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A mentalidade de lifelong learning é a habilidade essencial para ser relevante no futuro do trabalho. Ter disposição para se adaptar e curiosidade para aprender é o que vai permitir que profissionais se desenvolvam e se qualifiquem para ocupar os espaços em ascensão no mercado. Você sente que está se preparando adequadamente para isso?
Para ajudar você a evoluir seu mindset de aprendizado constante, sugerimos a leitura do artigo “Lifelong learning: a skill indispensável para profissionais do futuro”.