
Cynefin Framework: o que é, como funciona? [Veja Exemplos]
O Cynefin Framework é uma ferramenta que ajuda times e profissionais a entender em que tipo de contexto estão operando, antes de decidir o que fazer. Ele organiza os tipos de desafio em cinco domínios e mostra por que cada um exige uma forma diferente de pensar e agir.
Neste guia, você vai entender como o Cynefin funciona, como aplicar no dia a dia e por que ele pode mudar a forma como você toma decisões em cenários de ambiguidade, complexidade ou caos.
Aqui você vai encontrar:
- O que é o Cynefin Framework, e por que ele foi criado
- Os 5 domínios do Cynefin Framework
- Como usar o Cynefin na prática
- Evitando erros comuns com o Cynefin
- Exemplo prático: tomando decisões com Cynefin em um projeto digital
- Quando NÃO usar o Cynefin
- Conclusão
O que é o Cynefin Framework, e por que ele foi criado
O Cynefin Framework (lê-se ku-ne-vin) é um modelo criado por Dave Snowden, no início dos anos 2000, para ajudar líderes e equipes a tomar decisões melhores em contextos de incerteza e complexidade.
Ele nasceu dentro da área de gestão do conhecimento, mas ganhou espaço em times de produto, inovação, estratégia e design. Especialmente por uma razão: nem todo problema pode ser resolvido da mesma forma.
Qual é a proposta do Cynefin?
A ideia central do framework é simples:
Antes de decidir o que fazer, entenda o tipo de problema que está enfrentando.
Isso muda a forma como lidamos com desafios, porque:
- Alguns problemas têm respostas óbvias
- Outros exigem análise técnica e experiência
- Muitos são complexos e imprevisíveis
- E há situações em que tudo está em caos total
O Cynefin ajuda a identificar em qual desses contextos você está operando. A partir disso, escolher a abordagem mais adequada.
Por que isso importa?
Porque um dos erros mais comuns em times é aplicar boas práticas em contextos que exigem experimentação, ou tentar resolver um problema complexo com uma solução simplista.
O Cynefin serve como um mapa de leitura de contexto. Ele não diz o que fazer, mas ajuda a pensar como decidir com mais clareza, consciência e estratégia.
Os 5 domínios do Cynefin Framework
O Cynefin divide os contextos de decisão em cinco domínios. Cada um representa um tipo diferente de situação, exigindo uma forma distinta de pensar e agir.
Entender em qual domínio o seu desafio está é o primeiro passo para escolher a abordagem certa.
1. Claro (ou Óbvio)
- Relação causa e efeito evidente.
- As respostas são conhecidas e previsíveis.
- Basta seguir boas práticas.
Como agir:
Perceber → Categorizar → Responder
Exemplo:
Corrigir um erro ortográfico no app, configurar um botão, seguir um processo padrão de atendimento.
2. Complicado
- A relação causa e efeito existe, mas exige análise técnica.
- Há mais de uma solução possível.
- Requer especialistas ou investigação.
Como agir:
Perceber → Analisar → Responder
Exemplo:
Escolher uma arquitetura de dados, investigar uma queda de performance, decidir entre duas ferramentas técnicas.
3. Complexo
- A relação causa e efeito só pode ser compreendida depois que os eventos acontecem.
- Não dá para prever: as soluções emergem com o tempo.
- Exige experimentação, escuta e adaptação.
Como agir:
Prototipar → Observar → Adaptar
Exemplo:
Testar um novo modelo de onboarding, criar uma funcionalidade para aumentar engajamento, redesenhar a experiência do usuário com base em feedbacks.
4. Caótico
- Sem relação clara entre causa e efeito.
- É preciso agir rapidamente para conter o dano, antes de entender o que está acontecendo.
- Depois, vem o aprendizado.
Como agir:
Agir → Estabilizar → Sentir
Exemplo:
Queda do sistema em dia de pico, crise reputacional em redes sociais, bug crítico em produção.
5. Desordenado
- Quando você ainda não sabe em qual domínio está.
- Pode levar a decisões precipitadas se você agir no piloto automático.
- O objetivo é observar e categorizar rapidamente.
Como agir:
Diagnosticar antes de decidir
Exemplo:
Novo problema levantado por usuários que ainda não foi investigado, uma nova iniciativa mal definida.
O quadro a seguir resume os fluxos de ação recomendados para cada domínio:
Por que essa divisão ajuda?
Porque cada tipo de problema exige uma forma diferente de pensar:
- Claro e Complicado: você pode aplicar processos conhecidos
- Complexo: precisa testar e aprender
- Caótico: agir rápido para não perder o controle
- Desordenado: exige calma e análise antes de tudo
Como usar o Cynefin na prática
Saber o que é o Cynefin Framework é um bom começo. Mas o verdadeiro valor está em usar o modelo como lente para tomar decisões melhores no dia a dia, principalmente quando há incerteza, pressão ou muitos caminhos possíveis.
Comece pela pergunta: “Em que tipo de contexto estamos?”
Antes de sair executando ou escolhendo soluções, pare e reflita:
- O problema tem causa e efeito previsíveis?
- Requer análise técnica?
- É algo que só vai se revelar com experimentação?
- Está fora de controle, exigindo resposta urgente?
Essa pergunta simples já te ajuda a evitar abordagens inadequadas.
Adapte a abordagem de acordo com o domínio
- Se for Claro: siga boas práticas, processos estabelecidos e padrões confiáveis.
- Se for Complicado: consulte especialistas, compare alternativas, investigue.
- Se for Complexo: conduza experimentos, escute usuários, aprenda com os sinais.
- Se for Caótico: aja rápido para conter o problema. Depois, analise e aprenda.
- Se estiver Desordenado: não decida no escuro. Colete informações e entenda o cenário antes de agir.
Use o Cynefin para orientar conversas estratégicas
O modelo é ótimo para:
- Workshops e decisões em grupo
(Ajuda times a perceberem que nem todo problema é técnico ou imediato) - Discovery e produto
(Evita cair direto em soluções sem entender o tipo de desafio) - Discussões entre áreas
(Facilita alinhar expectativas e explicar por que certas abordagens são mais apropriadas)
Um framework para pensar, não um processo engessado
O Cynefin não é um passo a passo. É uma ferramenta de percepção. Ele te ajuda a:
- Ler melhor o contexto
- Reduzir decisões automáticas e precipitadas
- Escolher abordagens mais adequadas e conscientes
Evitando erros comuns com o Cynefin
O Cynefin é um framework poderoso, mas, como toda ferramenta estratégica, pode ser mal interpretado se usado no automático ou fora de contexto.
A seguir, alguns dos erros mais comuns que valem atenção:
Aplicar boas práticas em problemas complexos
Nem tudo pode ser resolvido com uma checklist. Em domínios complexos, o que funcionou ontem pode não funcionar hoje.
Erro comum: tentar usar fórmulas prontas em contextos que pedem experimentação e aprendizado.
O que fazer: testar, observar, adaptar. Não pular direto para a solução.
Tratar todo desafio como técnico (domínio complicado)
Quando o time está muito orientado a “resolver problemas”, há uma tendência a tratar tudo como uma questão de análise.
Erro comum: ignorar o fator humano, a imprevisibilidade ou o contexto emergente.
O que fazer: reconhecer quando o desafio é mais social, comportamental ou contextual, e agir com escuta e adaptação.
Ignorar o domínio desordenado
É comum começar a agir sem nem saber direito qual é o problema.
Erro comum: tomar decisões impulsivas, só porque “precisamos agir logo”.
O que fazer: dar um passo atrás, observar, conversar, entender o cenário antes de escolher a abordagem.
Usar o Cynefin como rótulo, e não como lente
O framework não serve para “encaixotar” problemas em caixinhas fixas.
Erro comum: usar o Cynefin só como teoria, sem conexão com a realidade do time.
O que fazer: aplicar o modelo como uma lente viva, algo que ajuda a refletir e ajustar o raciocínio com base no contexto real.
O antídoto: contexto antes da resposta
O principal aprendizado do Cynefin é simples: contexto vem antes da decisão.
Ignorar isso é o que leva a retrabalho, soluções ineficazes e desperdício de esforço.
Exemplo prático: tomando decisões com Cynefin em um projeto digital
Imagine que um time de produto está enfrentando um desafio: a taxa de ativação no app caiu nas últimas semanas. Usuários estão criando conta, mas não completam as primeiras ações esperadas.
O impulso inicial do time é ir direto para soluções: “Vamos redesenhar o onboarding!”, “Vamos mandar um e-mail com dicas!”, “Talvez seja um bug!”
Mas antes de agir, o time decide aplicar o olhar do Cynefin.
Etapa 1: identificar o domínio
Ao analisar a situação, o time percebe que:
- Não há uma causa clara e imediata (não é um bug óbvio → não é domínio Claro)
- Nem mesmo os especialistas sabem ao certo por que os usuários estão parando (não é apenas técnico → não é só Complicado)
- O comportamento parece emergente, e pode depender de contexto, motivação ou barreiras invisíveis
Conclusão: é um desafio do domínio Complexo.
Etapa 2: agir conforme o domínio
Como estão em um contexto complexo, o time decide:
- Rodar experimentos pequenos, testando diferentes abordagens de ativação
- Observar dados quantitativos e feedbacks qualitativos
- Fazer entrevistas rápidas com usuários que abandonaram o app
- Validar hipóteses com ciclos curtos de aprendizado
Eles não saem redesenhando tudo. Eles escutam primeiro, testam com cuidado e aprendem com o que emerge.
Resultado
Após alguns ciclos, o time descobre um insight valioso:
Muitos usuários estavam criando conta apenas para “explorar”, mas se sentiam travados por falta de orientação contextual.
A solução validada foi simples: uma sequência de micro mensagens explicativas dentro do próprio app, surgindo no momento certo.
Não era uma grande reformulação. Era uma resposta emergente a um problema real, revelado com escuta e experimentação.
Quando NÃO usar o Cynefin
O Cynefin é uma lente poderosa, mas não precisa ser aplicada em todo e qualquer contexto.
Ele não é necessário quando:
- O problema já está claramente definido e tem uma solução óbvia
- O time só precisa executar uma demanda já decidida (ex: corrigir um bug simples, ajustar layout, seguir uma regra do negócio)
- A decisão já foi tomada com base em dados e consenso, e não há ambiguidade
Nesses casos, aplicar o Cynefin pode gerar sobreanálise ou parecer burocrático.
Use quando houver incerteza, não como um ritual obrigatório.
A força do modelo está em trazer clareza quando a clareza não existe. É aí que ele realmente transforma a forma de pensar.
Conclusão
O Cynefin Framework não diz o que fazer. Ele ajuda você a entender onde está pisando antes de dar o próximo passo.
É uma forma de desenvolver pensamento estratégico, tomar decisões com mais maturidade, e evitar desperdício, retrabalho e soluções mal encaixadas.
Em vez de aplicar sempre a mesma abordagem para qualquer desafio, o Cynefin convida você a ajustar o raciocínio ao tipo de problema. E isso, por si só, já é um diferencial enorme para quem trabalha com produto, estratégia, design ou inovação.
Comece simples: use o modelo para refletir, provocar boas perguntas e alinhar o time.
Com o tempo, essa forma de pensar vira parte da cultura.
Pensar com Cynefin é agir com clareza. E clareza é o melhor ponto de partida para qualquer decisão.