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VSM (Value Stream Mapping): O que é e como aplicar? [Exemplos]

Escrito por Redação Tera | 10 Jul

Você já teve a sensação de que seu time está sempre correndo, entregando muita coisa, mas no fundo, pouca coisa realmente muda para o usuário?

Pois é. Muita gente vive isso. E o VSM pode ser a virada de chave

Uma ferramenta simples, visual e poderosa que te ajuda a entender como o valor é (ou deixa de ser) entregue, e o que pode ser feito para melhorar.

Aqui você vai encontrar:

O que é VSM (Value Stream Mapping)?

VSM significa Value Stream Mapping, ou Mapeamento do Fluxo de Valor.

É uma forma visual e prática de enxergar como uma ideia sai do papel e vira valor real para o cliente.

É como fazer um “raio-X” do seu processo de entrega: desde o primeiro insight até a hora em que algo é lançado e começa a gerar impacto.

O VSM mostra todo o caminho do valor, o que flui, o que trava, o que ajuda e o que atrapalha.

Em vez de olhar só para tarefas ou entregas pontuais, ele força o time a dar um passo atrás e observar o todo. Onde começa o trabalho? Quantas pessoas participam? Quanto tempo se perde em aprovações, re-trabalho ou espera? O que está realmente gerando valor?

Por que isso é tão importante?

Porque no dia a dia, tudo parece urgente. Tudo parece importante.

Mas a verdade é que nem tudo que a gente entrega gera valor.

Às vezes, o esforço está sendo desperdiçado em funcionalidades que ninguém pediu. Ou em processos longos, confusos e cheios de “depende”.

O VSM te ajuda a ver o invisível. Ele expõe gargalos, desperdícios, desalinhamentos e convida o time a melhorar de forma coletiva.

É uma ferramenta que muda o jogo porque:

  • Cria um mapa visual do fluxo real de trabalho;
  • Gera discussões profundas sobre o que de fato importa;
  • Ajuda a priorizar não só o que fazer, mas como fazer melhor.

E o melhor: você não precisa ser gestor ou especialista em Lean para usar

O VSM pode (e deve) ser usado por qualquer pessoa envolvida na criação de valor: designers, product managers, analistas, devs, agilistas, estrategistas.

Se você está num time que quer trabalhar melhor, entender o próprio processo e entregar com mais impacto, o VSM é um ótimo ponto de partida.

De onde veio o VSM e por que ele importa no mundo digital?

O VSM nasceu nas fábricas da Toyota, nos anos 50, como parte do Lean Manufacturing, uma filosofia voltada a entregar valor com o mínimo de desperdício. Lá, ele era usado para mapear cada etapa da produção e eliminar tudo o que não agregava valor.

Hoje, o cenário é outro, mas os problemas continuam.

Times digitais também enfrentam retrabalho, entregas sem impacto, processos lentos e falta de alinhamento.

E é aí que o VSM segue atual: ele ajuda a enxergar gargalos mesmo em ambientes complexos e intangíveis, como produto, UX, dados e tecnologia.

Com a evolução do Lean para o mundo ágil, o VSM passou a ser usado por squads de produto, plataformas e áreas estratégicas.

A lógica continua a mesma:

Entregar mais valor, com menos desperdício, agora no contexto digital.

Por que usar o VSM? O que ele resolve?

Sabe quando o time parece estar fazendo muita coisa, mas ninguém sabe exatamente o que está funcionando?

Ou quando uma simples entrega atrasa semanas porque ninguém sabe onde está o gargalo?

Ou pior: quando todo mundo está ocupado, mas ninguém sente que está entregando valor de verdade?

O VSM resolve isso.

Ele é uma ferramenta poderosa para trazer clareza, alinhar expectativas e eliminar desperdícios, tudo isso de forma visual, colaborativa e prática.

O VSM resolve problemas que afetam diretamente o dia a dia dos times, como:

  • Falta de visibilidade sobre o que está acontecendo entre uma ideia e a entrega final.
  • Desconexão entre áreas: produto decide uma coisa, design entende outra, e tecnologia constrói algo diferente.
  • Gargalos invisíveis, que fazem tudo atrasar, mas que ninguém enxerga até que seja tarde.
  • Processos mal definidos, com retrabalho, filas, esperas e decisões desalinhadas.
  • Sensação de esforço alto e impacto baixo.

Com um simples exercício de mapeamento, o VSM mostra de forma clara:

  • Onde o valor está fluindo.
  • Onde ele está travado.
  • E o que pode ser repensado para melhorar o fluxo.

Ele também ajuda a responder perguntas que todo time deveria se fazer com frequência:

  • O que está atrapalhando nossa entrega de valor?
  • Onde estamos gastando tempo demais para pouco retorno?
  • O que poderia ser automatizado, simplificado ou até eliminado?
  • Estamos mesmo resolvendo os problemas certos, do jeito certo?

E talvez o mais importante: ele gera conversa de qualidade dentro do time

O VSM não é só um diagrama bonito. Ele serve para criar alinhamento entre pessoas diferentes que, muitas vezes, estão olhando para o mesmo problema com lentes completamente diferentes.

Ao colocar tudo no papel (ou no Miro), o time começa a discutir não só o que está sendo feito, mas por que e como está sendo feito.

E é aí que começa a transformação.

Um exemplo prático de VSM no desenvolvimento de um produto digital

Ok, tudo muito legal na teoria… Mas como isso funciona na prática?

Vamos imaginar um cenário real, e muito comum em times digitais.

O desafio

Seu time trabalha em uma plataforma de educação online (por exemplo).

Uma demanda surge: criar uma nova funcionalidade de recomendação de cursos personalizados, baseada no histórico do usuário.

Parece simples, certo?

A ideia é boa, o objetivo está claro... mas o projeto atrasa. A entrega vem cheia de ajustes. A experiência final não é tão boa quanto se imaginava. O time termina exausto e sem saber exatamente por que deu errado.

Aplicando o VSM

Nesse momento, alguém sugere:

“E se a gente mapeasse o fluxo dessa entrega pra entender onde as coisas emperraram?”

O time se reúne (em um Miro, Figma ou papel mesmo) e começa a criar seu primeiro Value Stream Mapping:

  1. Ideia surge no discovery de produto
  2. PM leva para o squad e prioriza no backlog
  3. UX faz pesquisa e protótipo
  4. Dev espera as specs finalizarem
  5. Alinhamento com dados para coletar os inputs corretos
  6. Devs implementam backend e frontend
  7. QA testa
  8. Alinhamento com marketing para comunicação
  9. Deploy
  10. Feature no ar (finalmente)

Parece linear, né?

Mas quando o time analisa cada etapa, descobre:

  • A espera entre a pesquisa e o início da dev foi de 2 semanas.
  • O handoff entre design e dev gerou retrabalho porque as regras de negócio não estavam claras.
  • O time de dados não foi envolvido no começo, e isso atrasou a entrega em mais uma semana.
  • Ninguém mapeou os critérios de sucesso da funcionalidade com antecedência.

Resultado do mapeamento

Com tudo isso visível, o time percebe:

  • O tempo real de trabalho foi de 5 dias.
  • Mas o tempo total de ciclo foi de 4 semanas.
  • 80% do tempo foi espera, desalinhamento ou retrabalho.

Com esse diagnóstico, o time decide:

  • Envolver dados e engenharia desde o início no próximo discovery.
  • Criar um “mini check-in” de alinhamento antes da dev.
  • Prototipar o fluxo com critérios de sucesso claros desde o início.

O mais valioso? A conversa que o VSM gerou.

Mais do que um mapa, o VSM virou um ponto de partida para melhoria contínua

O time passou a entender melhor seu próprio processo. E, com isso, entregou mais rápido, com menos atrito e mais valor.

Como criar seu primeiro VSM (mesmo sem experiência prévia)

Você não precisa ser especialista em Lean, Agile ou consultoria para aplicar o VSM.

Na verdade, a melhor forma de aprender é colocando a mão na massa com o seu próprio time.

A seguir, você vai ver um passo a passo simples, direto e aplicável.

Dica importante: o objetivo aqui não é fazer um mapa perfeito, mas sim trazer clareza e iniciar boas conversas. O valor está no processo, não no desenho bonito.

Passo 1: Escolha um fluxo real para mapear

Não comece com um processo enorme.

Escolha algo pontual, recente e relevante para o time.

Exemplos:

  • A entrega de uma nova funcionalidade.
  • A atualização de um produto.
  • A correção de um bug crítico.
  • O onboarding de novos usuários.

Quanto mais concreto, melhor.

Passo 2: Reúna as pessoas envolvidas

Convide todas as pessoas que participaram ou participam do fluxo que será mapeado:

PM, design, devs, dados, QA, negócio...

O VSM é uma ferramenta colaborativa, e funciona melhor quando diferentes visões estão na mesa.

Se você fizer sozinho, corre o risco de enxergar só o seu pedaço da história.

Passo 3: Liste as etapas, de ponta a ponta

Agora é hora de montar o esqueleto do VSM.

Com o grupo reunido, vá perguntando:

  • Onde esse trabalho começou?
  • Quais foram os passos até a entrega?
  • Quem participou de cada etapa?
  • Onde o trabalho ficou parado esperando?

Desenhe uma linha do tempo simples, com post-its (físicos ou digitais). Cada post-it representa uma etapa.

O foco aqui é capturar o fluxo real, e não o ideal.

Passo 4: Para cada etapa, adicione informações chave

Esse é o momento de enriquecer o mapa com dados que revelam gargalos e desperdícios. Para cada etapa, tente levantar:

  • Tempo de execução: quanto tempo levou para fazer essa etapa?
  • Tempo de espera: quanto tempo o trabalho ficou parado entre uma etapa e outra?
  • Responsável(s): quem fez?
  • Problemas enfrentados: o que dificultou?

Não precisa ser ultra preciso. Estimativas já ajudam muito a visualizar padrões.

Passo 5: Identifique gargalos, retrabalho e desperdícios

Com tudo no papel, o time começa a enxergar:

  • Onde o fluxo trava.
  • Onde há dependências desnecessárias.
  • Onde há excesso de etapas ou decisões.
  • Onde o valor se perde no caminho.

Aqui, perguntas simples geram insights poderosos, como:

“Essa etapa era mesmo necessária?”

“Esse tempo de espera poderia ser evitado?”

“A gente poderia ter envolvido essa pessoa antes?”

Passo 6: Desenhe juntos o “fluxo ideal”

Com base no que foi mapeado, proponha uma discussão:

“Como seria esse fluxo se a gente pudesse melhorá-lo?”

A ideia aqui não é criar um processo engessado, mas sim prototipar uma nova forma de trabalhar:

  • Cortar etapas desnecessárias.
  • Trazer pessoas certas mais cedo.
  • Criar mecanismos de alinhamento melhores.
  • Usar automações ou templates que economizam tempo.

Passo 7: Documente, compartilhe e revisite

Finalize o mapa (ele pode ser simples mesmo!) e compartilhe com o time.

O VSM não precisa virar um artefato fixo. Ele pode e deve ser atualizado com o tempo, conforme o time evolui.

Mais importante do que o documento é o que ele gera: consciência, alinhamento e melhoria contínua.

Ferramentas e templates para te ajudar a começar

Você não precisa de ferramentas complexas para criar seu VSM. O mais importante é conseguir visualizar o fluxo com clareza e facilitar a colaboração entre as pessoas.

Aqui vão algumas opções simples e eficazes:

Ferramentas visuais

  • Miro – Ideal para mapeamentos colaborativos. Tem templates prontos de VSM e é fácil de usar com o time remoto.
  • Lucidchart – Ótimo para quem quer algo mais estruturado e diagramas mais formais.
  • FigJam – Alternativa leve e integrada ao Figma, perfeita para times de produto e design.
  • Papel e post-its – Se o time estiver presencialmente, essa pode ser a forma mais rápida e engajadora de começar.

Templates úteis

Você pode criar seu próprio template com 3 colunas básicas para cada etapa:

  1. Etapa / Ação
  2. Tempo (execução e espera)
  3. Observações / Problemas / Responsável

Quer facilitar ainda mais?

Use este layout base no Miro ou FigJam e personalize conforme o contexto do seu time.

Conclusão: VSM é sobre clareza, alinhamento e valor

Mais do que uma ferramenta de produtividade, o VSM é uma forma de ver o trabalho com mais consciência. Ele ajuda times a entender onde o valor realmente acontece, e onde ele se perde.

Usar VSM não exige senioridade, nem certificações. Só exige disposição para parar, olhar para o fluxo com honestidade e melhorar junto.

Se você quer entregar com mais propósito, colaborar com mais clareza e crescer com o seu time, começar pelo VSM é um ótimo caminho.