Visão estratégica de negócio em produto: Heider Berlink, Chief Product Officer do PicPay, traz suas percepções sobre o mercado atual.
O cenário da economia digital e dos novos negócios fez com que product managers ganhassem responsabilidade por conquistas importantes das empresas. Logo, sua atuação precisa estar alinhada com a visão estratégica de negócio para garantir resultados que dialoguem com o que a companhia pretende alcançar.
Sintetizar a visão da empresa e alinhar isso a tendências, necessidades do público e oportunidades do mercado é um desafio. Portanto, PMs precisam desenvolver a capacidade de aplicar a visão de negócio, ou seja, a abordagem estratégica em suas decisões cotidianas liderando times de desenvolvimento de produto.
À medida que empresas incorporam cada vez mais PMs às suas estruturas, resolvemos falar com um expert do mercado sobre essa necessidade de visão estratégica. Trouxemos neste artigo dicas exclusivas de Heider Berlink, Chief Product Officer (CPO) no PicPay, um dos experts da Digital Product Week 2021.
Acompanhe o conteúdo para entender mais sobre o assunto e conferir percepções de Heider sobre o mercado!
Product managers precisam ter percepção mais apurada das razões pelas quais novos projetos são iniciados e conduzidos a todo momento. A liderança de produto requer visão estratégica de negócio. Isso porque é impossível garantir entregas de qualidade sem o entendimento de um contexto mais amplo ao qual seu trabalho e projetos estão inseridos.
É que produtos que resolvem problemas e são um sucesso, geralmente, alcançam esse status porque foram pensados de diferentes óticas convergidas em uma só. Product managers não podem apenas pensar em funcionalidades, recursos e como eles vão funcionar bem em um produto.
Segundo Heider Berlink, quem ocupa essa posição deve convergir diferentes perspectivas. São elas:
as tendências do mercado;
as oportunidades de mercado;
as necessidades reais dos usuários;
as ambições do negócio.
Ao unir esses diferentes fatores, product managers conseguem construir a estratégia de produto perfeita para entregar soluções que façam sentido. E isso vai desde a dor do usuário até o contexto atual do mundo. Isso, é claro, sem deixar que a solução entregue seja comercialmente forte e venha a se tornar um sucesso para a empresa.
A liderança de PMs precisa ser embasada em informações e dados. Isso porque toda estratégia que guia empresas é definida dessa forma. Ou seja, ter acesso a relatórios, metas e fazer parte de reuniões executivas é fundamental para que PMs tenham visão de negócio e apliquem isso em seu trabalho à frente das equipes.
Quando falamos em estratégias, automaticamente estamos considerando resultados que a empresa almeja chegar em determinados recortes temporais. Esses milestones são uma base de trabalho importante, sobretudo porque produtos podem ser de grande ajuda para cumprir com metas e objetivos menores.
"A visão estratégica de negócio nos traz informações importantes, principalmente com relação aos outcomes esperados pela companhia em um determinado espaço de tempo. Outcomes estes que devem ser o norte para uma estratégia de produtos coesa e orientada a resultados" – Heider Berlink
Nas reuniões de estratégia que acontecem nas empresas, naturalmente há também definições importantes que vão delimitar o foco do trabalho em product management. A partir disso, product managers serão responsáveis por transmitir essa visão sistêmica para dentro do time de produto, garantindo então um direcionamento estratégico.
"A partir disso [visão sistêmica], os times de PM entendem o comportamento do usuário e identificam oportunidades que serão endereçadas pelo produto."
Heider destaca também que diferentes tipos de produto e suas categorias vão se encaixar de maneira única em empresas. É que cada companhia tem um modelo de negócios e isso, naturalmente, vai demandar um encaixe melhor com um ou outro produto.
No entanto, Heider destaca que, dependendo do modelo de negócio da empresa, produtos podem impactar marcas de diferentes formas. Então, uma escolha pouco alinhada pode gerar impactos negativos à companhia. Da mesma forma, investir nos projetos certos vai potencializar os resultados e ajudar a empresa a chegar em seus objetivos.
"É preciso entender que o modelo de negócios pode ser um promotor ou detrator da experiência e, em alguns cenários, um diferencial competitivo para um produto inserido em um mercado com alto nível de competição."
A visão estratégica é uma entre muitas outras skills que tornam pessoas PMs mais capacitadas a liderar produtos e conquistar objetivos para empresas. Listamos a seguir essas habilidades e falamos um pouco mais sobre como cumprem papéis importantes em product management.
A visão sistêmica é um diferencial realmente importante para PMs que querem liderar times de sucesso. Para entregar produtos capazes de solucionar problemas e fazer isso de maneira agradável ao consumidor, é necessário considerar muitas variáveis.
Heider destaca que questões econômicas e financeiras de uma empresa precisam sempre ser consideradas. Isso significa as metas de faturamento e lucros projetadas, além da estabilidade econômica em que a empresa se encontra ou pretende alcançar.
Em mercados extremamente dinâmicos, bons produtos precisam também ser capazes de atender aos tempos atuais. Por mais que seja relevante criar soluções que apenas se atualizam, ter também entregas adequadas a contextos temporais, ainda que não sejam relevantes por anos, por exemplo, também é fundamental.
Empresas que não orientam decisões importantes com ajuda dos dados estão fadadas a errar, perder oportunidades e não desenvolver ao máximo seus potenciais. Na verdade, nos dias atuais, as grandes players do mercado já são completamente data driven.
Portanto, PMs que querem alcançar os melhores lugares da indústria precisam ter não só a visão analítica, mas também entender que a tomada de decisão precisa ser embasada em dados. Hipóteses e suposições até têm valor, desde que sejam um ponto de partida para uma análise que vai atestar ou não essas questões.
A mentalidade de data analytics precisa também funcionar em product manager e, além disso, é papel de PMs garantir que toda a equipe de produto trabalhe da mesma forma. Assim, é possível acertar nas decisões ainda que estejamos falando de contextos econômicos, sociais e empresariais altamente dinâmicos.
A experimentação se torna uma característica importante no contexto de PM. Vez ou outra, novos recursos e abordagens distintas em produtos podem ser interessantes para testar hipóteses. Experimentar, no entanto, precisa ser algo que parte de uma base.
Geralmente, dados mostram um indício de novo comportamento ou novas necessidades que pessoas usuárias têm ao lidar com soluções. Para entregar uma resposta inovadora e eficaz, a capacidade de experimentação pode ajudar times de PM a encontrar boas saídas.
Aqui, também é importante que product managers consigam fazer isso com extrema responsabilidade e transmitam esse senso também para a equipe. O importante é dar cada passo com segurança, entendendo o que pode ser conquistado, mas também, possíveis rejeições por parte de pessoas consumidoras.
CPOs têm se tornado importantes figuras dentro de grandes empresas no Brasil e do mundo. Antes de dizer que isso é uma tendência importante, no entanto, é fundamental avaliar o nível de maturidade do mercado em relação a essa função. Afinal, estamos falando de mais um nome C-level ou de alguém com liderança e influência em tomada de decisão estratégica?
De fato, companhias que conseguem dar a CPOs autonomia e poder para influenciar nos rumos da empresa estão saindo na frente. Esse é o ponto de partida para que marcas adotem uma postura product driven, ou seja, empresas baseiam suas estratégias em produtos e no que esses podem trazer a nível de resultados para o negócio.
O grande ponto sobre o papel de CPOs no mercado nacional é que não se pode deixar de entender sua real função em times de PM. Geralmente, quem ocupa essa posição são product managers, esses não deixando de lidar com a rotina de liderança e gestão de times de produto.
Toda visão estratégica de negócio passa pelo entendimento da base de clientes. A percepção sobre o que essas pessoas precisam e desejam vai gerar uma gama de oportunidades que precisam ser aproveitadas. No caso, produtos precisam ser pensados de modo que preencham essas lacunas geradas pelas intenções de clientes.
Nesse cenário, CPOs ocupam um papel importante e, de fato, estratégico. Ao mesmo tempo em que estão à mesa com outras pessoas executivas, também precisam levar essas percepções de negócio para dentro dos times de produto. Assim, as entregas são mais alinhadas com os objetivos de negócio e têm maiores chances de sucesso junto ao público.
"Eu diria que é uma tendência ter empresas que, ao se preocupar com a proposta de valor entregue para o cliente, começam a estruturar uma área de produtos que tem CPOs com papel chave nesta liderança."
Apesar do cenário favorável para CPOs, Heider Berlink alerta para a necessidade de ter cuidado ao colocar esse cargo como tendência. Ele acredita que a baixa maturidade do mercado brasileiro pode atrapalhar a forma como empresas enxergam pessoas que ocupam o posto de CPOs.
Segundo Heider, as principais atribuições para pessoas CPOs devem ser vivência na liderança de time de produtos, conquistas de resultados relevantes e uma trilha de carreira sólida e consistente. Esses fatores são fundamentais para que o mercado brasileiro tenha CPOs qualificados e que exercem exatamente o que se espera deles: visão estratégica em produto.
A tomada de decisão é parte fundamental do trabalho de liderança em produto. É nesse simples momento que entregas podem ser um sucesso, mas também podem sair do que era esperado. Portanto, como já dissemos neste conteúdo, nunca é recomendado apostar apenas em suposições ou hipóteses que não foram embasadas em dados.
Times de produtos precisam fazer pesquisas. Ainda que não haja tempo para fazer pesquisas de grande porte, ouvindo milhares de pessoas, o mínimo que puder ser feito vai ajudar. Em alguns casos, selecionar uma amostragem reduzida de consumidores e captar percepções dessas pessoas pode já ser o suficiente, dependendo do cenário.
A tomada de decisão, além de precisar ser feita em bases mais sólidas, também deve ser aperfeiçoada. É como a criatividade: pessoas acham que já se nasce com ela, mas a verdade é que você pode desenvolver. Quanto à tomada de decisões, o mesmo acontece. Se você tem metodologias certas no suporte, gradualmente terá mais segurança para tomá-las.
Heider contou um pouco mais sobre os aprendizados que qualificaram muito sua capacidade de tomada de decisões à frente de product management. Ele trouxe duas sugestões de conteúdos muito valiosas que podem ajudar outras pessoas profissionais da área:
"The Book of Why: The New Science of Cause and Effect", Judea Pearl, Dana Mackenzie – O livro aponta como pessoas erram em diversos momentos na tomada de decisão porque acreditam em evidência de causa e efeito quando, na verdade, são apenas correlações entre variáveis. O mantra que baseia o livro é "Correlação não é a causa";
Masters of Scale – O podcast aborda e detalha cases importantes e mostra como a tomada de decisão em situações complexas gerou resultados incríveis para grandes empreendedores.
Visão estratégica não pode ser uma habilidade diferencial para quem lidera times de PM. Hoje, é preciso encarar como requisito fundamental, independentemente se estamos falando de cargos de CPO em perspectiva ou não. O importante é entregar produtos alinhados com os objetivos que as empresas têm. Isso sim traz resultados!
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