
Como saber em que fase seu produto está: o papel das métricas no ciclo de vida
Uma das perguntas mais difíceis (e fundamentais) em produto é: como saber em que fase meu produto está? Não existe resposta intuitiva. O que responde a essa pergunta são as métricas. Como costuma se dizer: "tudo que é metrificado é gerenciável; o que não é metrificado, é ingerenciável."
Produtos digitais evoluem em ciclos: começam pequenos, ganham tração, amadurecem e, eventualmente, podem entrar em declínio. Entender em que momento você está permite ajustar o foco da sua equipe de produto e tomar decisões mais inteligentes.
O tema deste post nasce a partir de uma aula do Murylo Schulttais, atualmente Senior Product Manager na Disney, que trouxe reflexões valiosas sobre como interpretar por meio de métricas a fase em que seu produto está.
Aqui você vai encontrar:
O papel das métricas
Um produto vive na interseção de negócio, experiência do cliente e tecnologia. Por isso, suas métricas também precisam refletir essas três dimensões:
- Métricas de negócio – aquisição de usuários, custo de aquisição (CAC), receita, churn.
- Métricas de experiência (cliente) – retenção, Net Promoter Score (NPS), engajamento, satisfação.
- Métricas de tecnologia (produto) – bugs abertos, estabilidade, tempo de resposta, uptime.
Esses três blocos se complementam. Se a aquisição de usuários cresce mas a retenção cai, você está inflando o funil sem vedar os vazamentos. Se a tecnologia não sustenta a experiência, o NPS vai cair. O segredo é olhar para os três agrupamentos juntos e entender como eles se comportam em cada fase do ciclo de vida do produto.
Quais são as quatro fases do ciclo de vida do produto
1. Introdução
No começo, o produto ainda é uma aposta. Você tem poucos usuários e, portanto, poucas métricas confiáveis.
O foco principal aqui é retenção: não muitas pessoas usando pouco, mas poucas pessoas usando muito.
Desafios
- Entender a interação dos usuários: com base em pesquisa qualitativa, já que os números ainda não dizem muito.
- Mapear benefícios percebidos: conversar diretamente com usuários para identificar o que eles estão realmente ganhando.
Pergunta-chave
👉 Como resolver as dores dos primeiros usuários da melhor maneira possível?
Exemplo prático: uma edtech que lança sua primeira turma não deve mirar 10 mil alunos logo de cara. Precisa garantir que os primeiros 50 tenham uma experiência impecável, para aprender com profundidade e construir um produto escalável.
2. Crescimento
Com retenção validada, chega a hora de crescer. É nesse momento que começam a aparecer correlações e causalidades: você consegue identificar, por exemplo, que quando o onboarding é mais rápido, a taxa de conversão melhora.
O foco passa a ser entender o que atrai mais usuários e replicar isso.
Desafios
- Diferenciar causalidade de correlação: nem todo padrão nos dados significa causa.
- Testar hipóteses continuamente: novos experimentos de aquisição e engajamento.
- Sustentar o crescimento: reforçar o que já está funcionando, sem dispersar esforços.
Pergunta-chave
👉 Quais são as principais iniciativas para alavancar o uso do produto?
Exemplo prático: um app de delivery descobre que usuários que recebem cupom na primeira semana têm maior LTV. O próximo passo é replicar e testar variações desse incentivo em escala.
3. Maturidade
Com o crescimento estabilizado, chegamos à fase de maturidade. Aqui as métricas estão mais previsíveis, e você já entende bem as variações e correlações.
O grande desafio passa a ser vedar os vazamentos do funil: descobrir onde os usuários estão saindo e garantir que quem entra continue até o final.
Desafios
- Visão analítica profunda: dados estáveis permitem análises detalhadas, e a equipe precisa explorar isso ao máximo.
- Simplificação do produto: cortar complexidade desnecessária para manter a proposta de valor clara.
- Melhoria contínua: ainda há espaço para experimentos, mas mais voltados a eficiência do que a validação.
Pergunta-chave
👉 Como simplificar o produto sem perder relevância de mercado?
Exemplo prático: plataformas como o Airbnb, já maduras, constantemente revisam features. Muitas vezes tiram funcionalidades pouco usadas para reduzir fricção e preservar o core da experiência.
4. Declínio
Nenhum produto cresce para sempre. No declínio, as métricas começam a cair de forma consistente: custo de aquisição sobe, receita diminui, churn aumenta, NPS cai. O funil fica cada vez mais furado.
O foco passa a ser entender a causa da perda de relevância e buscar alternativas para reverter.
Desafios
- Descobrir o que tornou o produto irrelevante: investigar por que a proposta de valor deixou de fazer sentido.
- Identificar novas oportunidades: repensar funcionalidades, canais, até mesmo modelo de negócio.
- Testar novas apostas rapidamente: validar hipóteses para retomar relevância.
Pergunta-chave
👉 Como mitigar riscos em novas apostas para sair do declínio?
Exemplo prático: o Orkut perdeu relevância quando o Facebook surgiu oferecendo proposta de valor mais clara. O desafio aqui seria identificar rapidamente essa mudança e tentar reposicionar o produto.
Conclusão
O recado principal é simples, mas poderoso: quem diz em que fase seu produto está são as métricas.
E essas métricas devem sempre ser vistas em três blocos: negócio, cliente e tecnologia, mudando de peso conforme a fase do ciclo de vida.
Saber em que momento seu produto está não é um exercício de intuição, mas de análise. Mais importante ainda: é isso que garante que você ajuste sua estratégia, foque nos desafios certos e prepare as próximas apostas com menor risco.