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Business Model Canvas: o que é, como preencher e aplicar na prática

Escrito por Redação Tera | 24 Jul

O Business Model Canvas é uma ferramenta visual que ajuda a entender e estruturar um modelo de negócio em uma única página. Ele organiza os principais blocos que compõem qualquer negócio, desde o público-alvo até a forma de gerar receita, e permite discutir, testar e ajustar ideias de forma prática e estratégica.

Neste guia, você vai entender como o canvas funciona, como preencher cada bloco com clareza e como usar essa ferramenta para tomar decisões mais inteligentes, mesmo em projetos pequenos, estudos ou portfólios.

Aqui você vai encontrar:

O que é o Business Model Canvas (e por que ele é útil de verdade)

O Business Model Canvas (ou BMC) é uma ferramenta visual que ajuda a entender, desenhar e evoluir modelos de negócio de forma clara e acessível. Ele foi criado por Alexander Osterwalder, em 2008, com uma proposta simples: substituir longos planos de negócio por uma visão objetiva e dinâmica do funcionamento de uma empresa ou ideia.

Desde então, o canvas se tornou um dos frameworks mais usados no mundo por quem empreende, inova ou trabalha com estratégia. E não à toa: ele permite que você visualize, em uma única página, como uma organização cria, entrega e captura valor.

Não é só para startups

Apesar de ter ganhado popularidade entre startups, o Business Model Canvas não é exclusivo de quem está começando um negócio. Ele é útil para:

  • Explorar novas ideias de produtos ou serviços
  • Repensar o modelo de algo que já existe
  • Alinhar time e stakeholders em torno de uma visão clara
  • Comunicar uma proposta de valor de forma estruturada
  • Mapear hipóteses antes de construir um MVP

O que torna o BMC tão útil?

  • Ele obriga a pensar no todo: clientes, canais, proposta, custos, receitas.
  • É fácil de atualizar, ideal para ideias em evolução.
  • Funciona bem tanto em conversas estratégicas quanto em protótipos de negócio.
  • Ajuda a sair da abstração e enxergar o que falta, o que está desalinhado, ou o que precisa ser testado.

Você não precisa saber tudo sobre o negócio para começar a preencher. Pelo contrário: o canvas é feito para explorar, ajustar, discutir e evoluir.

Os 9 blocos do Business Model Canvas

O Business Model Canvas é dividido em nove blocos que, juntos, ajudam a responder três perguntas fundamentais sobre um negócio:

  1. Como entregamos valor?
  2. Para quem entregamos valor?
  3. Como essa entrega se sustenta financeiramente?

Os blocos se conectam para formar uma visão completa e estratégica do modelo de negócio. A seguir, explicamos cada um deles com exemplos práticos para facilitar a compreensão.

1. Segmentos de clientes (Customer Segments)

Para quem sua solução existe? Quem são os grupos de pessoas ou empresas que se beneficiam dela?

É comum ter mais de um segmento (por exemplo, usuários finais e clientes pagantes podem ser públicos diferentes).

Exemplos:

  • Usuários de um app de educação financeira
  • Pequenos empreendedores atendidos por uma fintech
  • Recrutadores em uma plataforma de vagas

Comece sempre pensando: quem realmente sente a dor que minha proposta resolve?

2. Proposta de valor (Value Proposition)

É o motivo pelo qual alguém escolhe sua solução e não outra. A proposta de valor conecta o que você oferece com a dor, necessidade ou desejo do seu público.

Pode envolver:

  • Economia de tempo
  • Redução de custo
  • Conveniência
  • Status
  • Simplicidade
  • Acesso
  • Experiência

Exemplos:

  • “Organize suas finanças sem planilhas”
  • “Receba encomendas no mesmo dia, sem pagar a mais”
  • “Aprenda uma nova habilidade digital em 30 dias”

3. Canais (Channels)

São os meios pelos quais você entrega sua proposta de valor ao cliente: comunicação, distribuição e venda.

Exemplos:

  • Site ou aplicativo
  • Loja física
  • WhatsApp ou redes sociais
  • Marketplace parceiro
  • E-mail marketing

Pense em como o cliente toma conhecimento da sua solução, e como ele efetivamente a acessa ou consome.

4. Relacionamento com clientes (Customer Relationships)

Aqui você define como se relaciona com os clientes ao longo do tempo. O foco não é só conquistar, mas também manter e engajar.

Exemplos:

  • Atendimento personalizado
  • Suporte automatizado (chatbot)
  • Comunidade ativa de usuários
  • Onboarding guiado
  • Programa de fidelidade

A forma como você cuida da relação é parte da entrega de valor.

5. Fontes de receita (Revenue Streams)

Como o negócio ganha dinheiro? Quais são as formas pelas quais o valor gerado se transforma em receita?

Exemplos:

  • Venda direta
  • Assinatura mensal
  • Freemium + upsell
  • Comissão sobre vendas
  • Licenciamento

Uma proposta de valor sem fonte de receita viável é só uma boa ideia. Esse bloco força você a pensar na sustentabilidade financeira.

6. Recursos principais (Key Resources)

O que é essencial para que seu modelo funcione? São os ativos que você precisa para entregar sua proposta de valor.

Exemplos:

  • Equipe técnica ou de atendimento
  • Plataforma tecnológica
  • Base de dados exclusiva
  • Marca forte
  • Rede de especialistas

7. Atividades principais (Key Activities)

Quais são as ações críticas que o negócio precisa executar bem para gerar valor?

Exemplos:

  • Desenvolver e manter o produto
  • Criar conteúdo e gerar tráfego
  • Prestar suporte aos clientes
  • Fazer entregas logísticas
  • Negociar parcerias

8. Parcerias principais (Key Partnerships)

Quem te ajuda a entregar valor? Aqui entram aliados estratégicos, fornecedores, plataformas e qualquer parceiro externo essencial.

Exemplos:

  • Plataformas de pagamento (ex: Stripe, PayPal)
  • Operadoras logísticas
  • Criadores de conteúdo
  • Instituições educacionais parceiras
  • Consultorias especializadas

Parcerias ajudam a escalar, reduzir risco ou acelerar entregas.

9. Estrutura de custos (Cost Structure)

Quais são os principais custos envolvidos para operar seu modelo de negócio?

Exemplos:

  • Equipe e folha de pagamento
  • Infraestrutura de tecnologia
  • Aquisição de clientes (marketing)
  • Licenças e ferramentas
  • Custo de parceiros

A estrutura de custos deve estar conectada às atividades e recursos essenciais.

Esses nove blocos formam uma visão estratégica completa, mas flexível. O objetivo não é preencher o canvas de forma “certa”, e sim gerar discussões, testar hipóteses e enxergar o modelo como um sistema vivo.

Como preencher o BMC na prática (sem complicar)

Uma das maiores vantagens do Business Model Canvas é sua simplicidade. Mas mesmo assim, muita gente trava na hora de preencher. Ou porque quer “acertar tudo de primeira”, ou porque encara o canvas como um formulário a ser preenchido, e não como um exercício estratégico.

A verdade é: o canvas é uma ferramenta de conversa, exploração e iteração. E ele funciona melhor quando é usado com leveza.

Por onde começar?

Você pode começar por qualquer bloco, mas o mais natural é iniciar por dois:

  • Proposta de valor: o que você está oferecendo?
  • Segmento de clientes: para quem você está oferecendo?

Esses dois blocos são o coração do modelo. A partir deles, os outros blocos começam a fazer mais sentido. Você começa a visualizar como vai entregar valor, como vai se relacionar com o cliente e como isso se sustenta.

Preenchendo em grupo (ou sozinho)

  • Se estiver com um time, use o canvas para guiar a conversa.
  • Se estiver sozinho, use como um mapa visual do seu raciocínio.
  • Dê preferência a post-its ou ferramentas digitais (como FigJam, Miro, Mural). Isso permite mudar de ideia com facilidade, sem o peso de parecer “errado”.

Evite longos textos. Use palavras-chave, expressões curtas e lembre-se: o canvas é um rascunho estratégico, não um relatório.

Erros comuns ao preencher

  • Tentar ser “bonito” demais: foco é clareza, não estética.
  • Escrever jargões vagos (ex: “solução inovadora para um mundo melhor”). Seja específico.
  • Preencher sem discutir: o valor real está na troca de ideias, não no canvas em si.
  • Tratar como documento final: o canvas deve mudar à medida que você aprende.

Dica final

O canvas não precisa estar “pronto” para ser útil. Às vezes, só o exercício de preenchimento já desbloqueia decisões, revela buracos ou expõe suposições mal formuladas.

Usando o canvas para prototipar, testar e evoluir ideias

Muita gente usa o Business Model Canvas como se fosse um quadro finalizado, um modelo de negócio pronto e fechado. Mas a real força da ferramenta está justamente em permitir que você trate o modelo como um experimento.

O canvas serve para testar hipóteses, identificar riscos, fazer ajustes rápidos e aprender com o que funciona ou não. Ele não é um plano, é um protótipo.

O canvas é um mapa de hipóteses, não de certezas

Cada bloco do BMC carrega uma ou mais suposições sobre como o negócio vai funcionar. E a melhor forma de avançar com confiança é tratar essas suposições como hipóteses a serem testadas.

Exemplos:

  • Você acha que o cliente pagaria por uma assinatura mensal? Teste.
  • Acredita que o canal ideal é via redes sociais? Teste.
  • Está apostando que um parceiro logístico vai resolver sua entrega? Teste.

Iterar é parte do processo

Ao testar suas hipóteses com usuários, clientes ou parceiros, você pode (e deve) voltar ao canvas e ajustar os blocos. É normal mudar a proposta de valor, reformular o segmento de clientes ou rever os canais de aquisição.

Cada versão do canvas conta uma história da evolução do modelo.

E quanto mais cedo você descobre o que não funciona, mais rápido evita desperdícios de tempo, dinheiro e energia.

Exemplos de momentos em que o canvas destrava decisões

  • Um time está discutindo o lançamento de um novo serviço. Em vez de escrever um plano de 20 páginas, eles preenchem um BMC em 1 hora e percebem que não têm clareza sobre quem pagaria por aquilo.
  • Um empreendedor está validando uma ideia de aplicativo. Ao montar o canvas, ele percebe que o canal de distribuição principal que imaginava (lojas físicas) não conversa com o público-alvo digital que quer atingir.
  • Uma equipe de produto está debatendo a criação de um novo recurso. Ao colocar no canvas, percebem que ele impacta o modelo de receita. A entrega não se sustenta financeiramente.

Exemplos práticos: dois modelos diferentes mapeados no canvas

Para entender o poder do Business Model Canvas, nada melhor do que ver como ele se aplica na prática. A seguir, você vai encontrar dois exemplos mapeados com a lógica do BMC: um digital e um mais tradicional.

A ideia aqui não é apresentar modelos “certos”, mas mostrar como o canvas ajuda a pensar com mais foco e estrutura, independentemente do tipo de negócio.

Exemplo 1: Plataforma de cursos online

Imagine um negócio digital que oferece cursos para pessoas que querem se desenvolver profissionalmente. Veja como ele pode ser representado no BMC:

Bloco Exemplo prático
Segmentos de clientes Jovens profissionais buscando transição ou crescimento de carreira
Proposta de valor Acesso acessível e prático a conteúdo de qualidade com foco no mercado
Canais Site, redes sociais, tráfego orgânico, indicações
Relacionamento com clientes Suporte online, comunidade de alunos, automações de e-mail
Fontes de receita Assinaturas mensais, vendas avulsas de cursos
Recursos principais Plataforma de ensino, equipe pedagógica, instrutores
Atividades principais Produção de conteúdo, manutenção da plataforma, marketing
Parcerias principais Plataformas de pagamento, creators convidados, instituições apoiadoras
Estrutura de custos Equipe, tecnologia, marketing, produção de cursos

Exemplo 2: Consultoria freelancer de estratégia de negócios

Agora imagine um modelo mais enxuto, tradicional e individual: uma pessoa autônoma que oferece consultoria para empresas pequenas que querem crescer.

Bloco Exemplo prático
Segmentos de clientes Pequenos empreendedores e negócios locais
Proposta de valor Diagnóstico e orientação estratégica personalizada e acessível
Canais Indicações, redes sociais, eventos de networking
Relacionamento com clientes Atendimento direto, acompanhamento 1:1, feedbacks regulares
Fontes de receita Projetos avulsos, pacotes mensais, mentorias
Recursos principais Experiência da consultora, ferramentas de análise, rede de contatos
Atividades principais Reuniões, pesquisa de mercado, desenvolvimento de planos de ação
Parcerias principais Designers, contadores, outros profissionais de apoio
Estrutura de custos Ferramentas online, deslocamento, tempo dedicado

Quando (e por que) o Business Model Canvas não resolve tudo

O Business Model Canvas é uma excelente ferramenta de visualização e estruturação inicial. Mas ele não é suficiente para resolver todos os desafios de um negócio, e entender isso evita frustrações e uso inadequado.

O que o canvas não mostra

  • Profundidade dos dados: O BMC não traz validação, volume de mercado, comportamento do consumidor ou dados financeiros detalhados. Ele aponta hipóteses, não comprova nada.
  • Detalhes operacionais: O canvas te dá o “quê” e o “pra quê”, mas não entra no “como”. Questões como processos, cronogramas, gestão de equipe ou indicadores operacionais não cabem aqui.
  • Execução: Ter um modelo claro é essencial. Mas sem capacidade de execução (time, recurso, timing) o modelo não sai do papel. O BMC não cobre isso.

Business Model Canvas ≠ Plano de Negócio

É comum confundir as duas coisas, mas elas servem a propósitos diferentes:

Canvas (BMC) Plano de Negócio
Visual, enxuto, iterativo Detalhado, completo, geralmente fixo
Focado em modelo e hipótese Focado em execução, operação e viabilidade
Útil para explorar e comunicar Útil para apresentar a investidores, captar recursos ou operacionalizar

O ideal é começar pelo BMC e, à medida que o negócio amadurece, complementar com outras ferramentas mais analíticas ou aprofundadas.

O que funciona bem com o canvas?

  • Pesquisas com usuários
  • MVPs e protótipos
  • Métricas de tração e comportamento
  • Testes de preço e canal
  • Modelos financeiros (unit economics, CAC, LTV)

O canvas te dá clareza para saber o que precisa ser testado. O resto vem da experimentação, da análise e do aprendizado real com o mercado.

Conclusão

O Business Model Canvas não é um fim, mas um começo.

Ele serve para dar clareza sobre o que você está tentando construir, e para alinhar sua ideia com a realidade de quem vai usá-la, pagá-la ou executá-la. Quando usado com leveza e estratégia, o canvas ajuda a tirar ideias da cabeça e colocá-las no papel de forma visual, testável e ajustável.

Mais do que preencher nove blocos, usar o BMC é um exercício de pensamento. Ele te força a tomar decisões conscientes sobre onde está o valor, quem se beneficia dele, e o que você precisa fazer para entregar.

Mesmo que você esteja apenas começando um projeto, montando um case de portfólio ou testando uma ideia em paralelo, vale experimentar. Às vezes, tudo o que falta para sair da incerteza é visualizar o modelo com mais nitidez.

Pensar com o canvas é pensar com foco.

E foco, hoje, é uma das competências mais valiosas para quem constrói soluções no mundo real.