Gestão de projeto e gestão de produto se diferenciam em objetivos. Entenda mais com o expert Murylo Schulttais, Group Product Manager no PicPay.
Gestão de projeto e gestão de produto são duas áreas por vezes vistas como similares. Algumas pessoas acreditam até mesmo que a gestão de produto é uma evolução da gestão de projeto, o que não é o caso. Na verdade, vemos um crescimento exponencial na área de produto, muito por conta do avanço do desenvolvimento e oferta de produtos digitais.
Na prática, essas duas áreas são distintas, ainda que tenham algumas características em comum. Por mais que produto esteja em alta, projeto também é uma necessidade fundamental dentro de empresas mais tradicionais. Independentemente da área de atuação, estamos falando de duas perspectivas com importâncias singulares.
Neste conteúdo, vamos ajudar você a aprofundar o entendimento de cada uma dessas áreas, abordando as rotinas e demandas de cada ocupação. Quem nos ajuda a contar mais sobre as funções é Murylo Schulttais, Group Product Manager no PicPay e expert no curso de Digital Product Leadership da Tera. Acompanhe!
Se traçarmos uma linha do tempo, conseguimos ver nos principais marcos a gestão de projeto vindo primeiro. Afinal, o desenvolvimento de softwares há muito tempo é uma atividade importante nas empresas. No entanto, a coisa começa a mudar de figura quando chega a era digital e, com esse marco, o avanço dos produtos digitais.
Em meio a essas mudanças, as já difundidas metodologias ágeis passam a ser consideradas importantes também no desenvolvimento de projetos. Percebendo a necessidade de entregar soluções digitais, as empresas criam uma nova ocupação, que é a gestão de produtos. Naturalmente, são duas posições distintas, ainda que pareçam a mesma coisa.
As coisas vão ficar mais claras quando você mergulhar de cabeça em cada uma dessas ocupações, o que vamos ajudar você a conseguir na sequência.
Em projetos tradicionais, é de grande importância que haja as entregas definidas previamente dentro de uma data estabelecida. Portanto, se pudermos sintetizar ao máximo qual é o papel da gestão de projeto, devemos definir como o gerenciamento do processo que garante que o que foi definido em escopo seja entregue dentro do deadline planejado.
Isso vale para qualquer coisa, desde softwares completos até features que precisam entrar em alguma aplicação que já existe. Portanto, a gestão de projeto tem uma abordagem muito mais prática e focada em fazer as coisas andarem, sem muita preocupação em qualidade. Até por isso, há muito foco em estimar tempo de trabalho e garantir que isso fique dentro do prazo.
Sem dúvidas, a gestão de projeto também direciona esforços para monitorar o escopo. É que todos os detalhamentos e requisitos definidos lá no início de tudo precisam ser entregues nessa data final.
Diante desse cenário, profissionais que ocupam papéis como gerentes de projetos administram processos, monitoram indicadores de eficácia no desenvolvimento e dão suporte para garantir a entrega do escopo. Durante essa jornada de trabalho, há a necessidade de avaliar constantemente se a progressão das entregas está alinhada com o planejamento feito com um cronograma.
De um modo geral, há uma preocupação central no trabalho de gestão de projetos: garantir a entrega. E como isso não garante que haja qualidade na entrega, com o tempo, o trabalho de project managers passou a ser repensado.
Pessoas que desejam ocupar essa posição devem entender que terão mais espaço em empresas mais tradicionais, não tão focadas no digital. Quanto aos skills, project managers precisam ter:
perfil de liderança;
capacidade de comunicação;
abordagem colaborativa;
capacidade de gestão de tempo;
organização;
capacidade de solucionar problemas;
adaptabilidade;
familiaridade com KPIs de produtividade.
Product managers precisam ter três conhecimentos básicos: UX, negócios e tecnologia. Em pelo menos um desses campos, é necessário ser uma pessoa especialista. O motivo é porque PMs são profissionais que vão gerenciar o desenvolvimento de produtos pensando se essas entregas são as ideais para o momento do mercado e para as necessidades das pessoas usuárias da empresa.
Portanto, aqui já temos uma definição fundamental do trabalho de gestão de produto, que é o foco no resultado. Ou seja, o que importa mesmo é que esse produto chegue para o público de maneira que seja capaz de entregar valor, sendo solução realmente relevante e, ainda, tenha competitividade de mercado para gerar lucro para a empresa.
Uma diferença principal para a gestão de projeto é que, em produto, não há tanta preocupação com prazos finais. Isso porque as features, recursos e até mesmo a ideia do produto podem evoluir e necessitar de mais trabalho ao longo do tempo. Trata-se de um trabalho contínuo, sem data para acabar, sempre com foco em melhores resultados.
Isso não significa que times de produto não se preocupam com prazos e entregas. Esse trabalho é essencial e geralmente realizado por product owners, enquanto product managers focam no resultado e desempenho.
Gestão de produtos digitais é a área do momento, principalmente por conta da transformação digital, que fez emergir um sem número de novas aplicações e soluções digitais nas empresas. Nesse embalo, as empresas perceberam que precisam entregar produtos cada vez mais alinhados ao público, ou seja, capazes de resolver problemas. Portanto, estas skills são indispensáveis:
visão customer centric;
visão analítica;
abordagem data analytics;
conhecimento em metodologias ágeis;
capacidade de conciliação;
capacidade de solução de problemas;
conhecimento de pesquisa;
conhecimento de UX;
visão de negócios.
A forma como o trabalho é executado tem diferenças mais profundas que melhor permitem entender de que maneira projeto e produto se separam. Por essa ótica, há o melhor caminho para compreender as distâncias principais entre essas duas áreas de atuação. Entenda a seguir em alguns pontos mapeados pelo expert Murylo Schulttais.
O ciclo de vida do trabalho de project managers é mais bem definido e fechado em relação ao de product managers. Em projeto, existe início meio e fim.
Início – É o escopo, ou seja, momento em que há as definições do que será feito, quais são os entregáveis e quando isso precisa estar devidamente finalizado;
Meio – O meio é o período de desenvolvimento. Nessa fase, o papel de quem é project manager é acompanhar o cumprimento do cronograma e projetar cálculo de tempo para garantir que haja a entrega do escopo no deadline;
Fim – É a entrega, considerando que todos os entregáveis definidos no escopo sejam conformados e no tempo projetado.
Já o ciclo de vida de produto é diferente, justamente porque o foco é em resultados, e não em prazos e entregas. Isso faz com que tenhamos um ciclo de vida aberto, que funcionará assim:
Início – Não muito diferente, esse início é quando surge a ideia de produto, sendo o ponto de partida para o desenvolvimento;
Meio – O meio começa com a prototipação, que também é uma etapa clássica de início de concepção de produto, justamente para entender se você está abordando o problema certo, fazendo isso com economia de recursos;
Meio –Em vez de se encerrar, o ciclo continua com o lançamento sendo mais uma etapa, logo depois da validação da prototipação. Em produto, o lançamento é só mais uma fase, afinal, depois disso vem a percepção do público quanto ao produto;
Meio – A tração é a continuidade pós-lançamento, que se resume a garantir que mais consumidores usem o produto e, com isso, ofereçam feedback em relação à experiência;
Meio – Com tudo funcionando bem e com possíveis ajustes, a monetização vai acontecer de maneira natural, então, é fundamental considerar essa fase como parte do ciclo. Como dissemos, visar lucro é essencial dentro do desenvolvimento de produtos.
Meio – O ciclo segue com o desenvolvimento, ou seja, garantir que haja escalabilidade de seu produto, o que vai levar a um crescimento contínuo.
Em produto, o foco é sempre escalar. Isso é o que vai gerar mais engajamento com o público, desenvolvimento da sua entrega de valor e, claro, rentabilidade.
“A visão de produto passa a não fazer mais sentido quando você não consegue mais escalar aquele produto” – Murylo Schulttais, Group Product Manager no PicPay
De um modo geral, é fácil perceber que em projetos o foco é na eficiência da entrega, o que contempla um escopo sólido e menos flexível, um desenvolvimento ágil e que respeite cronogramas e uma entrega no prazo certo e alinhada ao escopo.
O grande problema envolvido nesse foco excessivo na entrega é que isso não garante qualidade máxima no projeto. Por vezes, project managers sofrem uma pressão tão grande para manterem o escopo e o prazo que acabam entregando aplicações abaixo do que poderiam ser e, consequentemente, pouco competitivas.
Esse foco em entrega passou a ser visto como algo pouco valioso a partir do momento em que os produtos digitais surgiram. Isso porque, além da concorrência, o ambiente de desenvolvimento abria espaço para que melhorias, novas features e evolução de versões pudessem ser feitas de maneira mais fácil.
Então, o que se pode enxergar é uma abordagem completamente diferente quando falamos de times de produto. A gestão é totalmente focada em resultados. Independentemente de quantas vezes o time precise trabalhar novamente naquela ideia, ou no produto pronto, o que importa mesmo é que o consumidor tenha seu problema resolvido e que o negócio mantenha seu produto sendo bem visto no mercado.
É por isso também que em processos como o de product discovery, as entrevistas são uma base importante do time de produto. Se a equipe consegue ouvir as pessoas que usam aquela solução, fica mais fácil fazer com que esse ciclo de vida seja contínuo e focado em entregas cada vez mais qualificadas.
“A linha de chegada nunca termina termina no primeiro quilômetro, porque para o próximo problema que eu for resolver, ou o próximo resultado que eu quiser gerar, eu terei múltiplas ideias que vão virar prototipações, trações, lançamentos, crescimento e assim por diante”, explica Murylo Schulttais
A principal diferença entre gestão de projeto e gestão de produto é que uma tem um ciclo que se encerra (projeto) e a outra funciona de forma contínua (produto).
Em projeto, como a ideia é entregar, acima de tudo, não há essa preocupação de desenvolvimento contínuo. Na verdade, o final é até mesmo essencial para formalizar essa entrega. É por isso que muitas pessoas consideram esse trabalho um tanto quanto tradicional.
Em produto, se você termina um ciclo, está dizendo que aquele produto simplesmente não tem mais perspectiva de crescimento. E aí, o que acontece é que sua concorrência vai entender que você desistiu, aproveitando disso para continuar o ciclo que tem em execução e superar o produto que você abandonou. Murylo Schulttais aponta que, “se você tiver um fim, você acabou de matar o seu produto”.
Essa visão de um ciclo sem fim está relacionada também à mentalidade de escalabilidade contínua que os produtos digitais permitem. Como dissemos, o que apoia isso é a percepção de mercado, o surgimento de novas tecnologias, as oportunidades comerciais de crescimento e, sem dúvidas, a identificação de novos problemas das pessoas consumidoras a serem resolvidos.
Sim! Esse é um caminho natural de desenvolvimento profissional, principalmente porque os produtos digitais são a realidade do mercado atual. Então, por mais que tenhamos visto ao longo deste conteúdo que há diferenças marcantes entre gestão de projeto e gestão de produto, há também a percepção de que project managers podem se tornar product managers muito competentes.
Essa tese é reforçada pelo mercado, primeiramente, com base na ideia de que project managers precisam apenas passar por uma mudança de perspectiva. Inegavelmente, são alterações conceituais profundas no método de trabalho, nos objetivos, no ciclo e responsabilidades, mas uma vez que essa dinâmica é compreendida, o restante fica mais fácil.
Sem dúvidas, outra necessidade importante são as skills indispensáveis para gestão de produto. Algumas podem ser aproveitadas a partir do contexto de projeto, como a liderança, comunicação e a capacidade de solucionar problemas.
Além dessas, o foco principal deve ser em entender a tríade base de gestão de produto: UX, negócios e tecnologia. Aí sim, profissionais com o fit ideal começam a nascer.
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Gestão de projeto e gestão de produto têm seus pontos em comum, mas são duas metodologias de trabalho com foco e objetivos bastante distintos. Isso não significa, porém, que profissionais não possam migrar de projeto para produto com sucesso. Essa evolução vai exigir o desenvolvimento de habilidades por meio de cursos que tragam a mentalidade de produtos digitais e o dia a dia da área.
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